domingo, 9 de novembro de 2025

Indaiatuba e suas Marias

HUGO ANTONELI JUNIOR*

Indaiatuba tem mais de 11 mil Marias. Você deve conhecer alguma. Se não for sua mãe, sua tia, vizinha, colega de trabalho ou filha, pode ser você mesma, ou podem ser todas. Toda mulher tem um pouco de Maria.

Esse é o nome mais usado no Brasil, informou um levantamento inédito divulgado pelo IBGE, com dados do Censo 2022, em novembro de 2025. Em Indaiatuba, entre 2020 e 2022 quase 500 famílias saíram do Cartório de Registro Civil com uma Certidão de Nascimento com Maria como primeiro nome.

É um nome que não sai de moda e está, segundo o IBGE, na liderança entre os nomes escolhidos pelos pais em quase todas as décadas, exceto a década de 1980. Há 4,3% da população de Indaiatuba de Marias. É, de longe, o nome mais utilizado na cidade.

E as origens? São muitas, assim como os significados. O mesmo Censo mostrou que quase 80% da população de Indaiatuba, estimada em 267 mil, é cristã, seja católica (54%) ou evangélica (23%). Isso pode explicar a maioria das escolhas. Maria é o maior nome feminino no universo cristão, desde a mãe de Jesus até as padroeiras – do Brasil ou das cidades. São todas uma. Uma são todas.

Maria pode significar vidente, senhora soberana, pura e até amada, tudo o que os pais esperam de um novo bebê que chega, apenas elogios ou bons prognósticos. Em relação às médias de algumas cidades, Indaiatuba fica abaixo, existem municípios em que 22% das pessoas se chamam Maria. Este também é o nome mais usado no mundo, ainda segundo o IBGE. Na Espanha, por exemplo, de cada quatro mulheres, uma se chama Maria, um percentual de 24%.

Isso relembra que Indaiatuba está no mapa. Não é possível fugir disso. Não há pedágio que separe a cidade do contexto que a cerca, passando pela região metropolitana, pelo Estado de São Paulo e pelo Brasil, não deixando assim uma cidade com mania recente de se autodeclarar diferenciada, como se não existisse em um contexto.

São Marias que constroem diariamente essa cidade e foi assim desde sempre. Elas estão pegando transporte público bem cedo, nas cozinhas dos restaurantes, na limpeza da casa, na educação dos filhos – seja como mãe ou como educadora na escola ou creche -, mas também empreendendo, definindo políticas públicas, vendendo bolo, terreno, pizza, roupas, dirigindo um carro, trator ou negociando na bolsa de valores. São as Marias que fazem de Indaiatuba e do Brasil o que somos.

Dar nome às coisas é o início de entender o que elas são. E os nomes dos filhos de Indaiatuba, que mantém uma taxa de cerca de três mil nascimentos por ano – metade em geral, meninas -, dizem muito sobre a gente continuar sendo – mesmo sem perceber – os mesmos de sempre. E isso pode não ser ruim. Talvez ainda sejamos os mesmos.

As Marias mostram que continuamos sendo paulistas, brasileiros, com fé e esperança – porque as crianças seguem nascendo e criança é futuro. O passado nos lembra que foram Marias (como dona Leonor e Aydil) que construíram essa cidade que temos hoje. E o futuro de Indaiatuba passa, inevitavelmente, pelas Marias.

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*É jornalista com passagens pelo Comando Notícia, TV Sol, Mais Expressão, Rádio Jornal, G1, Alesp, pós-graduado em Gestão Pública e Ciências Sociais, promotor de um projeto de História de Indaiatuba com a página Indaiatubanos no Instagram e de um projeto de Jornalismo na Escola desde 2023.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

A HISTÓRIA DA PRAÇA PRUDENTE DE MORAIS

        Charles Fernandes




Quando, em 1873, o novo leito ferroviário recém-instalado cercou a cidade ao sul, já se imaginava que o vetor de crescimento resultante de Indaiatuba seria ao norte, em direção à antiga estrada Itu–São Carlos (atual Campinas). Mas isso não seria novidade: o antigo Cemitério São Benedito, abençoado em 1838, junto com a inauguração da Candelária, localizado a apenas duzentos metros dela — onde atualmente é o quarteirão do Banco Itaú — já havia sido substituído pelo Cemitério São José em 1868, pouco mais distante, no local onde hoje está o prédio dos Correios, corroborando que a cidade cresceria nessa direção.

Nos últimos anos do Império, ali era o perímetro urbano da cidade — a Rua Nova (atual Bernardino de Campos) —, e foi nesse local que a Casa de Câmara e Cadeia se instalou em 1888, quando o entorno formava apenas um largo aberto e descampado. Logo depois, em 1907, o primeiro prefeito de Indaiatuba, na recém-instaurada República, major Alfredo Camargo da Fonseca, promoveu a urbanização do local, construindo o primeiro jardim e dando-lhe o nome do terceiro presidente do Brasil, Prudente de Morais, falecido poucos anos antes. Em 1916, foi construído o primeiro coreto. Poucos canteiros ajardinados, bolsões de acesso para carroças e cavalos marcam esse primeiro desenho.

Em 1944, teve início a obra dos Correios, no local do Cemitério São José, pois o Cemitério de Taipas da Candelária já havia sido inaugurado em 1899 e o terreno estava desativado.

Com a chegada da festa dos 25 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, em 1957, houve muitos preparativos — entre eles, o traslado dos restos mortais de vários combatentes. Entre os primeiros a receber tal honraria estava o voluntário João dos Santos, que foi exumado em 1956 e teve seus restos mortais levados para o recém-inaugurado Memorial do Soldado Constitucionalista, junto ao Ibirapuera, na cidade de São Paulo. Motivada por esse importante evento, em 1956 a Praça Prudente de Morais recebeu uma grande reforma, que modificou o traçado original em pedra portuguesa, instalou o busto do voluntário em frente ao edifício da Câmara, no local de um antigo bolsão de acesso, demoliu o coreto anterior e construiu um novo, em linguagem art decó (atualmente desfigurado). Nesse mesmo ano, também foi construído o Cine Rex, igualmente em estilo art decó.

O ano de 1956 parece ter sido de grande inovação e prosperidade para Indaiatuba: o prefeito era Lauro Bueno de Camargo e o presidente da República, Juscelino Kubitschek. Quase simultaneamente à construção de Brasília, Indaiatuba inspirava-se na arquitetura modernista inovadora e construía sua nova Prefeitura, que fora apelidada, com certo exagero, de Brasilinha, devido aos seus traços arquitetônicos. A face da quadra da Rua Cerqueira César com a Praça Prudente de Morais — com a nova Prefeitura e os Correios — passou a ser a mais moderna e arrojada da cidade.

Por um curto espaço de tempo, cerca de pouco mais de dez anos apenas, o atual coreto conviveu com a antiga Casa de Câmara e Cadeia, que, na década de 1960, foi demolida para a construção da fonte luminosa. Também foi reformada a parte mais ao norte da praça, criando novos canteiros onde antes havia bolsões de estacionamento defronte ao Cine Rex e aos Correios. A praça passou a ser o local do footing, onde os jovens se encontravam, caminhando em trajetos opostos e lançando olhares colineares. Mais adiante, nas décadas seguintes, a praça ligava as antigas sedes sociais do Indaiatuba Clube e do Clube 9 de Julho. Por mais de cem anos, foi o ponto de encontro mais importante da sociedade indaiatubana.

A atual configuração da Praça Prudente de Morais segue o traçado dessa época. Tendo recebido ainda quiosques de alimentação e, mais recentemente, um banheiro público, é conhecida atualmente pelo apelido de Praça dos Bancos.

Nenhum bem da Praça Prudente de Morais é tombado pelo patrimônio histórico de Indaiatuba — nem o imensamente rico piso em pedra portuguesa (que já teve texto exclusivo sobre ele), nem o busto, nem a Bíblia, nem o coreto, nem a fonte e muito menos o traçado do jardim de 1905, reformado em 1956 e 1969.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

ENCANTO E POESIA

Texto de Sérgio Mateus Squilanti

 

Encontrei-me com Acrísio de Camargo num sonho; desde adolescente, na década de 1960, ao cantar o hino indaiatubano nas aulas de Música e nas comemorações cívicas do então Colégio Estadual Dom José de Camargo Barros, eu o procurava.

“Alma Sombria”. Por que o poeta assim definia a alma da cidade, na letra do hino composto em parceria com Nabor Pires de Camargo, responsável pela melodia? Eu não tinha alma sombria, nem meus colegas. Muito menos a cidade; verdadeiro ou falso, conhecida pela alta incidência de raios ultravioleta e irradiação solar elevada. Iluminação aqui não faltava. “Nosso sol tem calor de amizade”, definiria um slogan da prefeitura municipal, na década de 1980.

Quando me deparei mais diretamente com a letra do hino indaiatubano, aos 16 anos de idade, a época era de Alegria-Alegria, festivais de música popular brasileira, passeatas, contestações ao regime militar. Efervescência social que varria o país de ponta a ponta, aqui também replicada. O município iniciava um ciclo acelerado de desenvolvimento econômico, com a instalação de multinacionais que nos tornaram conhecidos mundialmente.

Mas, ao cantarmos o hino indaiatubano, éramos lembrados do tipo de alma que tínhamos: sombria, lúgubre, triste, melancólica, carrancuda, obscura, nublada, sinistra, tenebrosa, macabra e todos os demais sinônimos pejorativos disponíveis no Google.

Eu não me conformava com essa definição, e, quando algo me incomoda, mexe comigo, e me dou conta de que não posso fazer nada para alterar o que me contraria, eu sonho. Meus sonhos são sempre longos e demorados; tenho pilhas de cadernos onde eu os anoto há décadas. A maior parte deles é indecifrável. Mas, como adiante veremos, este não foi o caso.

O sonho está anotado em um dos meus cadernos mais antigos. Relata o dia em que me encontrei com Acrísio de Camargo: 9 de dezembro de 1930, aniversário da cidade, dia da inauguração do monolito comemorativo ao centenário de elevação de Indaiatuba a Distrito de Paz da Jurisdição de Itu, quando o hino indaiatubano seria executado em público pela primeira vez.

Um dia de festa, promovido pelo legendário prefeito Major Alfredo Fonseca, que governava a cidade há 25 anos, e que deixaria o cargo no ano seguinte, retornando à prefeitura quatro anos depois.

Encontrei-me com Acrísio às quatro e meia da manhã no Largo da Matriz e, ainda sonolentos, juntos, ouvimos emocionados a Corporação Musical Sete de Setembro entoar a Alvorada, seguida de uma salva de vinte e um tiros, que além de espantar o sono, afugentou todas as pombas e passarinhos das torres da igreja e das imediações.

Perambulamos pelas ruas contíguas à igreja matriz Nossa Senhora da Candelária, conversando com muitas pessoas que, apesar do horário, marcavam presença, curiosas com os festejos, e, alegres, cumprimentavam Acrísio; algumas solicitando receitas de remédios, por exercer ele, na cidade, a profissão de farmacêutico.

Às seis horas da manhã, dirigimo-nos até o Paço Municipal, no centro da praça central da cidade, para reverenciar o hasteamento do pavilhão nacional. Às dez horas, a manhã foi encerrada com uma solene missa campal que, contritos, acompanhamos e, ao final, até comungamos.

Vocês sabem que nos sonhos tudo é permitido, e, no meu, Acrísio era católico, assim como eu. Atualmente sou bem mais eclético.

Apesar de toda essa intimidade, talvez por ainda não conhecer a letra do hino indaiatubano, que só seria entoado ao meio-dia, no mesmo Largo da Matriz, por um coro de senhoritas, não abordei o poeta sobre a razão da alma sombria do município, mesmo porque nada indicava que esse estigma pairasse sobre as cabeças dos indaiatubanos, principalmente naquela data, uma vez que o próprio poeta era bastante alegre e divertido, o que se confirmou à noite, no salão do Cine Internacional, ao som da animadíssima Jazz Band, quando o agora meu amigo comprovou que além de poeta e farmacêutico era um ótimo bailarino, disputado pelas moçoilas presentes.

Acrísio estava sempre bem vestido, elegante e jovial em seu terno listrado, cabelos engomados, como era moda; apenas 31 anos de idade. Embora não fosse indaiatubano, pois nascera em Jundiaí, mas por ser poeta conhecido e admirado, morasse e trabalhasse em Indaiatuba, fora convidado a escrever a letra da mais importante peça cívica-musical do município, que a partir do auspicioso 9 de dezembro de 1930, e pelos 95 anos seguintes, seria cantada e recantada por dezenas de milhares de vozes, de todas as idades e gerações, nas escolas, em comemorações oficiais e em praça pública, apesar de nossa alma sombria.

Depois do baile e de algumas doses a mais de bebida, de madrugada, quando cada um retornava à própria casa, criei coragem e questionei o poeta sobre porque qualificar a alma da cidade de forma tão negativa e se ele concordaria em reescrever a letra do hino indaiatubano ou admitir que alguém, um vereador ou prefeito, propusesse a substituição do termo por um outro mais adequado à realidade.

Ele estranhou, surpreendeu-se, pois, para ele, “sombria” não tinha a mesma conotação que para mim. Encarava como um termo romântico, típico do final do século XIX e das primeiras décadas do século XX, quando pululavam canções, poemas e romances, com características lúgubres semelhantes, a exemplo de A Dama das Camélias” ou da modinha Perdão Emília, e da épica Coração Materno, canção em que o filho mata a própria mãe para, a pedido da amante, arrancar do peito da genitora o pulsante coração que,  mesmo assim, o perdoa, imortalizada na voz de Vicente Celestino, entre tantos outros romances, poemas e composições no mesmo estilo “melancólico”, “sombrio”, para dizer o mínimo.

- Sombrio, mas com “encanto e poesia”, contestou Acrísio. - E você se esqueceu da sequência: “E parece sorrir o seu claro infinito, a pensar: Indaiatuba sem par”, acrescentou o poeta com um sorriso compreensivo, recitando versos do hino indaiatubano.

Foi nesse momento que ele e eu nos demos conta de que éramos de épocas distintas. Passado e futuro se confrontando, separados por dezenas de décadas, postados em arcabouços históricos radicalmente diferenciados ou mesmo antagônicos.

- Você veio do futuro para reclamar da minha poesia? Propor que a letra do hino que compus seja reescrita?

Ainda que me sentindo um espião, com a identidade revelada, fiquei tentado a dizer: sim! “Campo florente, tão vasto e bonito”, onde? Já nem tem mais campo na cidade, é só condomínio, e avenidas asfaltadas, eu ia argumentar, mas me dei conta que, em 1930, com pouco mais que 5 mil habitantes, Indaiatuba, de fato, poderia ser considerada um “ninho”, e para o poeta, “de amor caro e gentil”.

Os indaiás, que cobriam extensas áreas da cidade, aos quais ela deve o nome, só seriam totalmente exterminados muitas décadas à frente. À época da composição da letra do hino indaiatubano, quando Acrísio tinha apenas 31 anos de idade, podiam, de fato, compor, juntamente com outras espécies nativas, um campo florente, vasto e bonito, numa cidade com pouquíssimas edificações.

Atualmente, não restou quase nenhuma palmeira indaiá, o que não seria motivo para mudar o nome da cidade, ou seria? Tuba (muito, em tupi-guarani). Indaiá, a referida palmeira de porte baixo, produtora de cachos de coquinhos. Em resumo: muito indaiá (que já não há mais por aqui).

“Com seu ar e seu clima, és uma rosa no mais lindo recanto do Brasil”. Outro verso do referido hino que me passou pela cabeça contestar. O ar em Indaiatuba ainda é bastante respirável, comparei e admiti, mas o clima, como em todo planeta, está em colapso, e no verão, aqui ou alhures, é de sofrer. Porém, olhando a Indaiatuba da época, pelos olhos inspirados do então jovem poeta, não tinha como contestar seus versos: “ó terra querida e venturosa”, ainda que autonomear-se “o recanto mais lindo do Brasil” seja um certo exagero, se comparado com outros recantos do país; mas o elogio passa como licença poética para quem coube a responsabilidade definir a cidade, há quase um século atrás, na letra do hino a ela dedicado.  

“Berço feito de sonhos e de amor... os teus filhos te saúdam com ardor”.

Não há como não amar Acrísio de Camargo, embora o conheçamos tão pouco, ou, basicamente pela letra do hino indaiatubano.

E, depois de estar com ele e de tanta discordância e questionamentos, acordei resignado e convicto de que, afinal, alma sombria é melhor do que não ter alma alguma, e que dá até para engatar, ainda que forçando um pouco a barra, um cunho sonhador nos sombrios, cheios de encanto e poesia, como eu, ou como você.

Hino de Indaiatuba - SP

Salve, ó terra querida e venturosa,
Santo ninho de amor caro e gentil,
Com teu ar e teu clima és uma rosa
No mais lindo recanto do Brasil.

Salve, ó Berço querido onde nasci,
Berço feito de sonhos e de amor...
Hoje em festa, a cantar, pensando em ti,
Os teus filhos te saúdam com ardor.

O teu campo florente é tão vasto e bonito!
E tua alma sombria
Tem encanto e poesia!
E parece sorrir o teu claro infinito,

A pensar
Indaiatuba sem par.

 


Prefeitura Municipal divulga programação para a Semana da Consciência Negra 2025

      Programação une caminhada, cinema, debates e cultura em diferentes espaços da cidade



A Prefeitura de Indaiatuba, por meio da Secretaria de Cultura e com apoio do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir), realiza entre os dias 16 e 20 de novembro a Semana da Consciência Negra 2025. A programação, que acontece em diversos espaços da cidade, propõe momentos de reflexão, aprendizado e celebração da cultura negra, com atividades voltadas a todas as idades.

A abertura será no domingo (16/11), a partir das 7h30 com concentração no Casarão Pau Preto, e saída 8h, para uma caminhada pelo centro da cidade em uma ação que simboliza o movimento coletivo pela igualdade racial e pelo respeito à diversidade. A iniciativa é organizada pelo Compir e contará com atividades de aquecimento e integração dos participantes.

Durante a semana, a programação segue com exibições de filmes, rodas de conversa, oficinas, exposições e apresentações culturais, que abordam temas como representatividade, racismo, literatura e arte.

Na segunda-feira (17/11), o Topázio Cinemas exibe o longa Malês, direção de Antônio Pitanga, seguido de debate e roda de conversa com a palestrante professora Dra. Nádia Nogueira, com ingresso solidário de 1 litro de óleo para o Funssol.

Na terça-feira (18/11), o Casarão Cultural recebe a exposição Racismo no Esporte a partir das 19h. Na Biblioteca Municipal haverá uma oficina de letramento racial, também às 19h, realizada pelo Compir.

Na quarta (19/11), tem Roda de Conversa sobre o livro Cartas para Minha Avó, da escritora Djamila Ribeiro, mediado pela advogada e mestranda em sociologia Francine Oliveira da Silva e a professora Dra. Nádia Nogueira. O encerramento da programação ocorre na quinta-feira (20/11) com o CorAção, evento de Hip-Hop no CEU do Jardim São Conrado, a partir das 9h.

De acordo com a Administração Municipal, a Semana da Consciência Negra é um momento de valorização da história e da contribuição da população negra na construção da cidade e do país, além de fortalecer o compromisso de Indaiatuba com a promoção da igualdade racial e o combate ao racismo.

“É uma semana de escuta, diálogo e aprendizado coletivo. Falar sobre consciência negra é reconhecer nossa diversidade, promover respeito e reafirmar o compromisso com a equidade racial”, destaca o Compir.

A importância da Semana da Consciência Negra

Celebrada em 20 de novembro, data que marca o Dia Nacional da Consciência Negra e homenageia Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência contra a escravidão no Brasil, a semana convida toda a sociedade a refletir sobre os impactos históricos e sociais do racismo e sobre a necessidade de ações contínuas pela justiça e pela representatividade.

Mais do que uma comemoração, a Semana da Consciência Negra é um chamado à responsabilidade coletiva, de reconhecer, valorizar e promover a cultura afro-brasileira em todos os espaços. É um lembrete de que a luta por igualdade e respeito deve ser permanente, e que a educação e o diálogo são os caminhos mais potentes para transformar realidades.

Serviço:

Caminhada - Semana da Consciência Negra

Domingo - 16/11/2025

Horário: 8h

Local: Parque

Responsável: Compir (Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial)

Classificação: Livre


Exibição do Filme: Malês (Dirigido por Antônio Pitanga)

Segunda-feira - 17/11/2025

Horário: 19h

Local: Topázio Cinemas (Shopping Jaraguá)

Classificação: 14 anos

Ingresso solidário – 1 litro de óleo


Exposição de Quadros Racismo no Esporte

Terça-feira - 18/11/2025

Horário: 19h

Local: Museu Reginaldo Geiss / Casarão Cultural Pau Preto

Classificação: Livre

 

Oficina de Letramento

Terça-feira - 18/11/2025

Horário: 19h

Local: Biblioteca Municipal Antônio Modanesi

Responsável: Compir (Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial)

Classificação: 12 anos

 

Roda de Conversa: Livro Cartas para minha Avó (autora Djamila Ribeiro)

Mediado pela advogada e mestranda em sociologia Francine Oliveira da Silva e a Profª Drª Nadia Nogueira

Quarta-feira - 19/11/2025

Horário: 19h

Local: Biblioteca Municipal Antônio Modanesi

Classificação: 12 anos

 

CorAção Hip-Hop

Quinta-feira - 20/11/2025

Horário: 9h

Local: CEU Jardim São Conrado

 

#PraTodosVerem: A arte consta uma mão fechada preta com um fundo geométrico étnico para ilustrar os dizeres: Semana da Consciência Negra. De 16 a 20 de novembro.

 

 

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Censo Populacional de 1768, as Ordenanças de Itu e de Indaiatuba

 Eliana Belo Silva

 

INTERSECÇÕES ADMINISTRATIVAS E MILITARES NA ESTRUTURA COLOCIAL PAULISTA 

As esquadras de "Indaiatuba"

 

Introdução

O censo realizado em 1768 na província de São Paulo, marcado pela enumeração das chamadas "esquadras", não se restringia apenas ao aspecto demográfico, mas também refletia o contexto institucional e militar da colônia. Nesse universo, as Ordenanças de Itu assumem papel central, entrelaçando-se com o levantamento populacional ao estabelecer vínculos entre organização civil e defesa territorial.

Neste cenário, Nilson Cardoso de Carvalho apresentou, em seu livro "Cronologia Indaiatubana" (2009) um mapa (que categorizou como ‘em estudo’) inserindo as esquadras das Ordenanças de Itu no atual território de Indaiatuba, mostrando, assim, os europeus ou seus descendentes que por aqui viveram naquela época e que fizeram parte dessa estrutura.

Este texto explica o contexto desse censo com base em bibliografia revista e citada e reapresenta os estudos do memorialista principalmente para demonstrar as mais antigas origens do povoamento não-originário de Indaiatuba e sua relação com o Estado Colonial português.

 

Esquadras e Ordenanças: Divisões funcionais

As esquadras, tal como identificadas no censo, constituíam subdivisões das freguesias e serviam para facilitar o registro e controle dos moradores. Paralelamente, as ordenanças eram milícias civis formadas por homens livres responsáveis pela defesa e manutenção da ordem pública, baseando-se justamente nessas divisões territoriais para recrutar e organizar seus membros. A vila de Itu, de relevante influência política e econômica, tornou-se referência administrativa: suas ordenanças eram formadas segundo os agrupamentos das esquadras, permitindo uma atuação mais eficiente e articulada entre poder civil e militar.

 

O papel das Ordenanças de Itu

Criadas a partir de diretrizes metropolitanas e sob ordens do Capitão Geral Morgado de Mateus, começaram a ser produzidas na Capitania/Província de São Paulo as “listas nominativas” (os chamados Maços de População). Essas listas eram feitas com base na estrutura das Ordenanças de Itu, que reuniam habitantes das diversas esquadras (subdivisões comandadas por cabos) mapeadas no censo constituindo, assim, a base da estrutura militar paulista que, nem sempre contava com tropas regulares ou profissionais. Cada esquadra oferecia combatentes e colaboradores para as milícias, integrando a lógica censitária à dinâmica do recrutamento militar. normalmente responsáveis pela defesa, manutenção da ordem e apoio à administração portuguesa. No contexto de Itu, essas ordenanças teriam desempenhado papel importante na dinâmica política e social regional, articulando interesses locais e metropolitanos.

As ordenanças eram organizações militares com rígida hierarquia: capitão-mor, sargento-mor, capitães; abaixo, alferes, sargentos, furriéis, cabos - que comandavam as esquadras e o uso de “esquadras” sob comando de cabos. As esquadras atuavam, segundo AZEVEDO (1954) tanto no patrulhamento das áreas rurais quanto no apoio às operações militares oficiais, sendo fundamentais para a segurança das comunidades paulistas.

O censo de 1768, ao registrar quem eram e onde viviam os moradores, fornecia subsídios indispensáveis para a composição das tropas, o controle de ausências e a mobilização em caso de conflito ou ameaça externa e interna (dos indígenas e negros escravizados) e ainda segundo CARDIM (2005), também para organizar tributos e planejar estratégias de ocupação territorial.

 

As esquadras no território indaiatubano, em mapa elaborado por Carvalho

 


Ordenanças de Itu, Sexta Esquadra de Indaiatuba 
Cabo: Ignacio Xavier Leme, 48 anos; 
soldados: José Bicudo da Costa, 36, 
Caetano Felis, 58, 
Gaspar de Anhaya, 46, 
Antonio Leite, 27, 
Salvador Leite, 30,
 Gaspar Barreto, 54, 
José de Gois Barreto, 20, 
Ignacio Xavier de Passos Silveira, 19, 
Francisco Xavier Dias, 50, 
José Gonçalves Costa, 41, 
Manoel da Costa, 24. 
(Fonte: Maços de População, Arquivo do Estado de São Paulo)

 Impacto e legado

A articulação entre censo e ordenanças consolidou-se como mecanismo fundamental de governança no interior paulista, em especial em Itu, que viria a ser palco de movimentos decisivos para a história da província. O cruzamento de dados populacionais e de divisão militar não apenas reforçou a capacidade administrativa da Coroa, como também estabeleceu as bases para políticas de expansão territorial e controle social. O levantamento das esquadras, portanto, dialogou diretamente com a atuação das Ordenanças de Itu, revelando como o monitoramento dos moradores era inseparável da organização das forças de defesa.


Conclusão

Destacando CARDIM (2005), reforça-se que recenseamento nunca é neutro: ele produz efeitos de poder — classificando, hierarquizando e territorializando pessoas segundo critérios de interesses de poder – no caso, do Estado Colonial — influenciando e até determinando os moldes das políticas sobre escravidão, migração, trabalho livre, posse de terras, densidade demográfica em capitanias e vilas e seus devidos controles militarizados para a manutenção dos interesses metropolitanos.

O censo de 1768 e as Ordenanças de Itu exemplificam o entrelaçamento entre estratégias de administração populacional e militar no Brasil colonial. Por meio da enumeração das esquadras, a província de São Paulo estruturou-se para enfrentar desafios tanto civis quanto militares, e a vila de Itu - com suas esquadras no atual território de Indaiatuba - despontou como laboratório dessa integração, perpetuando um legado que marcaria a história paulista por gerações.

 

 

 

Fontes e Referências Bibliográficas

AZEVEDO, Fernando de. História de São Paulo. São Paulo: Melhoramentos, 1954.

BACELLAR, C. de A. P. As listas nominativas de habitantes da capitania de São Paulo sob um olhar crítico (1765–1836). Anais de História de Além-Mar, v. 16, 2015, p. 313-338.

BICALHO, Maria Fernanda. “Ordenanças, milícias e territórios: a administração militar no Brasil colonial.” In: Fragoso, João & Gouvêa, Maria de Fátima (orgs.). O Antigo Regime nos trópicos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

CARDIM, Carlos. “O censo de 1768 e o governo da população na América portuguesa.” Revista Brasileira de História, v. 25, n. 49, 2005.

MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

MENDONÇA, Marcos Lobato. O poder da vila: elites locais e ordenanças militares em São Paulo (século XVIII). Belo Horizonte: UFMG, 2006.

Arquivo Público do Estado de São Paulo. Censos antigos: documentação histórica. 


quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Lançamento do livro “PÉS DESCALÇOS – A LEI DE COTAS VEIO PARA FICAR”




O autor Sérgio José Custódio é PhD pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, graduado em ciências econômicas pela Unicamp e mestre em educação pela USP. Foi coordenador geral do DCE da Unicamp; fundador do cursinho popular no DCE da Unicamp; relator do grupo de trabalho sobre a questão universitária em São Paulo atuou na criação do sistema público de bolsas de estudo em instituições privadas PROUNI e na aprovação da Lei de Cotas no Congresso Nacional. Foi professor de história voluntário aos sábados e domingos na periferia de São Paulo e grande São Paulo, como educador popular em experiências de cursinho popular do Movimento dos Sem Universidade (MSU). 

O livro “PÉS DESCALÇOS - A LEI DE COTAS VEIO PARA FICAR” Retrata a luta pelo direito a universidade no Brasil, não foi presente do alto ou de mentes iluminadas. A LEI DE COTAS e o PROUNI são filhos da dor e da luta de muitas famílias de negros e negras povos indígenas pobres estudantes de escola pública que chegavam as portas da universidade e eram proibidos de entrar. Esta obra narra Vitória suprapartidária da coalização dos pés descalços liderada pelo MSU e pela Educafro, pelos novíssimos movimentos sociais, do chão dos cursinhos populares até a Vitória no chão do poder no Congresso Nacional mudando a cara da universidade brasileira.


Quem luta é que sabe (1)

Marcelo Paixão (Professor da Universidade do Texas) 


Em “Lei de Cotas: mudança estrutural em política pública e vitória suprapartidária da coalizão dos pés descalços no parlamento do Brasil”, incialmente sua tese, agora transformada em livro, o professor Sérgio José nos narra a história de uma luta vitoriosa protagonizada pela juventude negra e periférica em nosso país: as ações afirmativas para ingresso nos cursos de graduação das Universidades públicas e privadas brasileiras. Certamente a maior conquista dos movimentos sociais brasileiros do século XXI, concordamos? Só por este motivo este trabalho deveria ser recebido com viva atenção pelo público leitor. Mas há outras razões também. 

No livro o Prof. Custódio escreve com ricos detalhes os passos dados por um número indefinido – menos que milhares, mas muito além de “meia dúzia” – de jovens negros e periféricos organizados coletivamente através do Movimento dos Sem Universidade (MSU). Inspirado por um discurso do célebre bispo, companheiro Dom Pedro Casaldáliga ao receber o título de doutor honoris causa da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 2000, o MSU nasceu com o objetivo de lutar pela democratização ao acesso às universidades brasileiras em prol dos – agora sim o número é preciso - os milhões de jovens alijados do ensino superior no Brasil. 

O livro é escrito em primeira pessoa, fato que se costuma despertar certa resistência por parte de orientadores e membros de banca de dissertação, neste caso antes contribui para tornar o estudo ainda mais cativante. Na qualidade de presidente do MSU, o Prof. Custódio está especialmente capacitado para levantar a documentação das ações desta coalização junto ao Congresso Nacional em Brasília e pelas diferentes universidades brasileiras que iniciaram o debate ou implementaram alguma modalidade de ação afirmativa pelo país até entre 2003 e 2012. Com a decisiva ação do MSU, neste período foram aprovados o Programa Universidade Para Todos (PROUNI), em 2005, com critérios de cotas raciais em estabelecimentos particulares e a Lei de Cotas (nº Lei 12.711), em 2012, para acesso de discentes provenientes de escolas públicas às Universidades públicas federais com recorte racial baseado na composição de cor ou raça de cada estado. 

Sem meias palavras, o Prof. Custódio nos descreve o processo de amadurecimento pessoal e político de um incontável número jovens negros e periféricos no ato do contato com as caras sombrias de parcelas expressivas da comunidade acadêmica, de intelectuais e da mídia na maioria das vezes nada receptivos para ouvir suas mensagens e demandas. 

Empregando a Advocacy Coalition Framework, o Prof. Custódio convincentemente mostra aos seus leitores que a causa das ações afirmativas foram resultante do protagonismo da juventude negra e periférica, mas em fundamental aliança estratégica com outros segmentos coirmãos dos demais movimentos sociais. 

(1) O título deste prefácio, “quem luta é quem sabe”, é associado à autoria de Margarida Alves, uma liderança histórica dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande, Paraíba, assassinada aos 50 anos de idade plausivelmente à mando dos proprietários de fazenda de açúcar daquela região descontentes com sua liderança pela reforma agrária e direitos dos trabalhadores da lavoura de cana-de-açúcar.


 O autor

SÉRGIO JOSÉ CUSTÓDIO 



Faz pós-doutorado na Universidade de São Paulo, FFLCHUSP (2023). Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mestrado em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Em 03 de janeiro de 2022 fez o depósito de sua tese de doutorado multidisciplinar na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Em 27 de abril de 2022 defendeu a tese "Lei de Cotas: mudança estrutural em política pública e vitória suprapartidária da coalizão dos pés descalços no parlamento do Brasil.", foi aprovado e obteve o título de doutor pela FFLCH-USP. Fundador do Cursinho Popular do DCE Unicamp, relator do Grupo de Trabalho Sobre a Questão Universitária em São Paulo, atuou na criação do sistema público de bolsas de estudos em instituições privadas (Prouni) e na aprovação da Lei de Cotas no Congresso Nacional do Brasil. Proponente do Conselho Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Prouni e da Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social da Lei de Cotas. Foi membro titular da Comissão de Acompanhamento e Controle Social do Prouni no Ministério da Educação. Foi membro titular da Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social da Lei de Cotas no Ministério da Educação. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Os primeiros habitantes de Indaiatuba - ESCAVAÇÕES DE UMA ALDEIA PRÉ-HISTÓRICA EM MONTE MOR

                                                                                         Eliana Belo Silva


Os primeiros habitantes do território onde hoje é Indaiatuba foram os povos tupis-guaranis e a maior prova disso é o nome de nossa terra que, na linguagem deles, significa "muitas" (tuba) e "palmeiras de indaiá" (indaiá). 

Esses indígenas tinham o costume de dar nomes aos lugares para contar o que existia ali. Eles observavam a natureza, os animais, as plantas e até as histórias que aconteciam em cada região. Dar nome era uma forma de lembrar e cuidar do lugar. O nome Indaiatuba é uma das provas que esses indígenas viveram por aqui.

Mas essa não é a principal evidência desses antigos habitantes.


ESCAVAÇÕES DE UMA ALDEIA PRÉ-HISTÓRICA EM MONTE MÓR

Em 1949, o Museu Paulista, sob a direção do professor Paulo Duarte, deu início às escavações de uma aldeia pré-histórica localizada no município de Monte Mor, às margens do rio Capivari, estado de São Paulo. A área havia sido descoberta anteriormente pelo pesquisador José Loureiro Fernandes, que identificara vestígios cerâmicos e líticos aflorando na superfície do terreno.

Os trabalhos de campo revelaram uma aldeia de grandes proporções, com centenas de fragmentos de cerâmica, artefatos de pedra polida e lascada, restos de fogueiras e ossadas humanas e animais. As escavações indicaram a presença de várias camadas de ocupação, sugerindo que o local foi habitado durante longos períodos.

A cerâmica apresenta decoração simples, predominando os vasos de paredes finas e bordas levemente expandidas. Alguns exemplares mostram vestígios de engobo vermelho e marcas de esteira, características comuns a outras tradições arqueológicas do planalto paulista.

Os instrumentos de pedra incluem lâminas de machado, raspadores, percutores e pequenas pontas de projétil. Entre os achados ósseos, identificaram-se fragmentos de animais de caça e peixes, indicando que a dieta dos habitantes combinava recursos fluviais e terrestres.

A disposição dos vestígios e das fogueiras sugere que as habitações eram circulares, feitas de madeira e cobertas de folhas ou palha, semelhante a outras aldeias estudadas no interior do estado. Em alguns pontos foram encontrados restos de estacas carbonizadas, possivelmente bases de antigas cabanas.

Os resultados preliminares permitiram situar o sítio dentro da chamada “Tradição Aratu”, identificada em diversas regiões do Brasil central. Essa tradição se caracteriza pelo uso de cerâmica simples e pela agricultura de coivara, com cultivo de mandioca, milho e outras espécies nativas.

Os materiais recolhidos foram encaminhados ao Museu Paulista, onde passaram por triagem, classificação e análise comparativa. As escavações de Monte Mor contribuíram para ampliar o conhecimento sobre os povos pré-históricos do interior paulista, suas formas de vida e sua adaptação ao ambiente.

Trabalhos posteriores confirmaram a importância do sítio, que passou a ser referência para estudos sobre a ocupação indígena pré-colonial na bacia do rio Capivari e regiões adjacentes, incluindo Indaiatuba.


(texto em construção - créditos citados posteriormente)













domingo, 26 de outubro de 2025

JANELAS EMBANDEIRADAS DA ANTIGA INDAIATUBA

                                                                                                                                           Charles Fernandes



Alguém já se perguntou por que as construções antigas de Indaiatuba possuíam um pé-direito tão alto? E por que as fachadas das casas térreas tinham alturas muito maiores que as atuais?

Pois é... mais uma vez faremos uma viagem no tempo, por meio de um elemento marcante da nossa arquitetura tradicional: a bandeira das portas e janelas.

Se você já leu o conto O Padre Sustentável na Terra do Imperador Menino, disponível no blog da Prof. Eliana Belo, já deve ter imaginado as engenhosas peripécias que os primeiros habitantes desta nossa linda e quente terra criaram para tornar suas moradias mais agradáveis. O elemento que abordaremos a seguir também surgiu com esse propósito: proporcionar conforto térmico às edificações tradicionais da nossa região.

Nenhuma análise de arquitetura que se preze pode começar sem antes apresentar um breve panorama da economia, tecnologia e cultura do tempo e do lugar em que o patrimônio está inserido. Falaremos, portanto, das primeiras edificações urbanas de Indaiatuba, construídas entre o século XIX e o início do século XX — mais precisamente entre os anos de 1830 e 1930, ou até um pouco depois disso.

O que orientava o projeto dessas obras era, antes de tudo, a falta de equipamentos, ferramentas e materiais sofisticados. O que se tinha à disposição era madeira, barro e ferramentas rudimentares. Indaiatuba teve seu início em 1791, quando Pedro Gonçalves Meira adquiriu terras exatamente no meio do caminho entre São Carlos (Campinas) e Itu. A antiga Paragem de Indaiatyba por muitos anos foi acessível apenas pelo lombo dos animais.

As primeiras ruas eram poucas e dispostas paralelamente à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária. As construções ficavam coladas umas às outras, criando uma fachada quase contínua — solução prática para preservar as paredes de barro, direcionar as águas pluviais para a via pública e para um pátio interno, onde se realizavam os serviços domésticos mais pesados, longe da vista de quem passava.

Vale lembrar que calhas e rufos só chegaram muitos anos depois, com a passagem da ferrovia em 1873. A partir daí, chegaram também o vidro e as esquadrias com ferragens mais funcionais.

Mesmo após a chegada da estrada de ferro, a estrutura da casa tradicional indaiatubana manteve-se praticamente a mesma por décadas: aberturas voltadas para frente e para trás; casas encostadas pelas empenas dos oitões; e um corredor central muito alto, percorrendo toda a planta — desde a porta de entrada até a cozinha, que, na verdade, era uma varanda posterior e aberta. Essa configuração se manteve até o fim da primeira década do século XX, quando chegou a energia elétrica, e ainda resistiu até meados da década de 1930, com a instalação da rede de água.

As casas tradicionais de Indaiatuba contavam apenas com a engenhosidade dos seus moradores. Não havia ventiladores, ar-condicionado nem sistemas de climatização — o conforto vinha da sabedoria popular e da observação dos fenômenos físicos.

Vamos relembrar alguns conceitos:

O ar em movimento exerce menos pressão que o ar parado, e, por isso, o ar estático tende a deslocar-se para onde há circulação. Além disso, o ar quente sobe, enquanto o ar frio desce. Assim, quando há vento na rua, cria-se naturalmente uma corrente de ar através do corredor central — ligando as faces opostas da casa, do fundo (mais protegido) até a rua, onde o vento sopra livremente. É como uma chaminé deitada. Essa corrente cria um fluxo contínuo, que insufla ar mais fresco para dentro das casas.

Ao instalar aberturas independentes na parte superior de portas e janelas — as chamadas bandeiras —, era possível liberar o ar quente acumulado e permitir a entrada de ar frio por outra abertura. Uma janela aberta ventila muito quando se abre também a bandeira da porta do corredor; e essa, por sua vez, ventila melhor quando a bandeira de uma janela está aberta para o exterior.

As portas voltadas para os corredores internos possuíam essas bandeiras, e, para que o sistema funcionasse, era necessário que os cômodos tivessem pé-direito mais alto. Esse princípio, hoje conhecido como ventilação cruzada, é amplamente utilizado em projetos de arquitetura sustentável.

Se a memória não me falha, algumas portas antigas do Hospital Augusto de Oliveira Camargo ainda preservam suas bandeiras voltadas para o interior.

Os grandes e altos corredores com portas e janelas embandeiradas perderam sua utilidade com a chegada dos sistemas modernos de climatização. As fachadas das casas foram abaixando e, com o avanço das leis higienistas, passou-se a exigir recuos laterais para ventilação e insolação.

Assim, chegou ao fim a fachada contínua da antiga Indaiatuba — e com ela, o uso das janelas e portas embandeiradas.

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