quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Padre Luís Del Giudice e a "Lyra Indaiatubana"

texto de Nilson Cardoso de Carvalho*


Antônio Reginaldo Geiss, presidente da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba descobriu recentemente em Itu uma foto que lança luzes sobre um texto que copiei na Cúria Metropolitana de Campinas em 1997. O texto é do padre Luís Del Giudice (1) que foi pároco de Indaiatuba desde o final de 1884 ao início de 1890. Antes de deixar Indaiatuba ele escreveu na folha n.o 96 do 2.o livro tombo da Matriz o seguinte:

E também um facto que está no dominio publico que os instrumentos de muzica, que são nas mãos de diversos amadores d’esta arte pertencem a Igreja, tendo sido comprados por meio de uma subscripção popular por mim pessoalmente promovida e auxiliado pelo Sn.r Antonio Gonçalves Ribeiro. Os instrumentos são dezaseis. A saber: um bombardão, dous saxes, dous pistões, uma requinta, duas clarinettas, um flautim, um bombardino, um rufo, um bumbo, um par de prattos.(2) = // Todos estes instrumentos foram dados aos muzicos responsabilizando-se por elles o Sn.r José Manoel da Fonseca (3) . // Indaiatuba 12 de janeiro de 1890 // Vigr.o Luis Del Giudice (4)

Em fins de 1886 D. Pedro II visitou cidades do interior paulista. De passagem para Piracicaba, o Imperador almoçou em casa de Francisco de Campos Araújo, o ‘Chico da Estação’, em Itaici, juntamente com toda a comitiva. Diz Scyllas Leite de Sampaio que “Apesar de não estar no programa parada em Indaiatuba, a passagem foi assinalada com espocar de fogos, comparecendo à estação as autoridades locais, vereadores, o pároco Luís de Giudice, pessoas de destaque na localidade, além da Corporação Musical, sob batuta de seu regente José Mico, como era chamado.” (5)

Complementando informações sobre os músicos e instrumentos mencionados pelo padre, encontramos no Almanaque de Canuto Thorman de 1895 a informação de que Indaiatuba possuía uma banda de música cujo professor era José Luiz de Moraes e o presidente era o Major Alfredo de Camargo Fonseca (6) . A banda chamava-se “Lyra Indaiatubana”.

Nabor Pires de Camargo informa, em publicação póstuma recente (7) , que antes de 1912 o maestro Hilário Dias de Almeida havia regido uma banda durante alguns anos da qual pertenceram entre outros músicos José Mário (celebre pistonista nas redondezas de Indaiatuba), Vicente Tanclér, Rafael Tanclér, Luiz Laurenciano (Canivete), Carlos Montebello e Alziro Pires de Camargo, o “Miloca”. Depois do maestro Hilário, esteve na direção da banda o maestro Francisco Fávero, pai do grande jurista Flamínio Fávero. Em 1912 o maestro José Lopes dos Reis, o “Dunga”, assumiu a direção da “Primeira Banda Oficial de Indaiatuba”, isto é a primeira banda subvencionada pela Prefeitura. Nesta atuaram elementos das bandas anteriores, e mais: Hermenegildo Pinto, João Nunes, Afonso Bonito, Sylvio Talli, Rêmulo Zoppi, José Minas, Alfredo Coppini, Higino Coppini, Atílio Minioli, Godofredo Pires de Camargo, Jaime Pires de Camargo e Nabor que era o mais jovem dela.

Antônio Zoppi conta que os instrumentos usados pela banda do maestro Dunga eram tão velhos que o trombone do mestre tinha que ser consertado com cera, para tampar os buracos que tinha (9) .

A conclusão é que os dezesseis instrumentos adquiridos pelo padre Giudice foram os responsáveis pela origem da “Lyra” e de outras corporações musicais que tão fortemente atuaram para desenvolver uma cultura musical em Indaiatuba.


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(1) “Revd. Luiz Del Giudice, natural da Itália, nomeado [pároco] de Indaiatuba a 11 de dezembro de 1884 e tomou posse no dia 21, provido por um anno no dia 29 do mesmo mez e anno. Obteve nova provisão por 1 anno em 26 de dezembro de 1885 – Novo provimento annual a 24 de dezembro de 1888. Novo provimento a 20 de dezembro de 1889. Retirou-se do Bispado”. [1890]

(Arquidiocese de São Paulo – Livro de Paróquias n.o 1, fls 57 – Indaiatuba (22-9-1848-26-7-1906)

(2) Apenas treze instrumentos foram relacionados.

(3) Capitão [Guarda Nacional] José Manoel da Fonseca Leite Jr., filho de José Manoel da Fonseca e de D. Gertrudes de Camargo Arruda. Foi casado com D. Thereza de Almeida Prado (1857) e, em segundas núpcias, com D. Maria Brasiliza da Silva Prado (1878). Com a primeira teve os filhos: Doutor José Manoel da Fonseca Leite Júnior, D. Escolástica da Fonseca Bicudo, Jesuino da Fonseca Leite, D. Gertrudes da Fonseca Cotching. Não teve descendência no segundo consórcio. Foi dono das fazendas Morro Torto, Engenho d’Água, e Pau d’Álho entre outras, e ao falecer em 1897 deixou para seus herdeiros as fazendas Cachoeira do Jica, Pau Preto e Bela Vista, além de ações e prédios em São Paulo num monte avaliado em pouco menos de mil contos de réis.

(4) Livro Tombo da Matriz de N.a S.ra da Candelária de Indaiatuba n.o 2 (1876-1890), fls. 96; Arquivo da Cúria Metropolitana de Campinas.

(5) SAMPAIO, Scyllas Leite de, 1891-1966, e SAMPAIO, Caio da Costa. Indaiatuba – sua história.- Indaiatuba SP: Rumograf, 1998, p. 293

(6) Cf. “Completo Almanak administrativo, commercial e profissional do Estado de São Paulo para 1895 contendo Todos os municipios e Districtos de Paz Nono Anno Reorganizado segundo os decretos por Canuto Thorman.” ; ed. fac-similar existente na biblioteca do Arquivo do Estado de São Paulo em novembro de 1995.

(7) O major Fonseca consta no almanaque de Thorman como Intendente da Câmara Municipal, presidente da Lyra Indaiatubana e presidente do diretório do Partido Republicano em Indaiatuba no ano de 1895.

(8) CAMARGO, Nabor Pires, 1902-1996. Recordações de um clarinetista. – Indaiatuba: Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, 2000, p. 49 e segs.

(9) ZOPPI, Antônio. Reminiscências de Indaiatuba. Indaiatuba: Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, 1998, p. 25.

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