quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sobre o livro do Penna: "Nos Tempos do Bar Rex"

Eliana Belo Silva
Originalmente publicadona Revista Imediata Opinião de novembro de 2010


Apropriadamente Walter Nicolucci desabafou, ao comentar o livro lançado por Antônio da Cunha Penna: _ “Bom seria se no início e meados do século XVIII, em Vila de Cocais, houvesse também um Penna.” Acho que o desabafo até foi reducionista e, por essa ótica, eu expandiria-o, também inconsoladamente choramingando: _ “ Bom seria se desde o início, em meados do século XVIII até hoje, tivéssemos tido vários Pennas.”

Sim. Há uma carência de escritores que estudem, registrem, interpretem, publiquem, critiquem a História de nossa Indaiatuba, que está praticamente todinha aí, para ser desvendada, publicada, compartilhada. E também há demanda, percebo pela quantidade de pessoas que comentam os textos que escrevo ou divulgo de outros escritores. [neste blog]

A História não é uma ciência exata, onde o objeto estudado possa ser experimentado e analisado empiricamente como outras ciências; e escrever sobre o Homem no tempo exige, na maior parte das vezes, que o pesquisador decida sobre quais proposições são mais verdadeiras que outras. E Penna usou de critérios subjetivos para registrar a História de Indaiatuba, em determinada época, com o Bar Rex como cenário: ele escolheu a veracidade a partir de seus gostos e preferências individuais.

Assim temos um livro que descreve alguns homens e sua época, suas relações com os outros, com o trabalho, com o lazer, com a família, com a arte, com a manguaça... Tudo registrado com um humor e uma criticidade que beira o cinismo, características tão presentes em Penna.

Uma obra de História? Historiadores ortodoxos torceriam o nariz (ai, como a inveja dói), assim como o fazem para Eduardo Bueno e Laurentino Gomes, jornalistas que atrevidamente assumem o papel de historiadores produzindo obras deliciosíssimas. Uma obra Literária sobre vida social? Um apanhado de crônicas delimitadas por um determinado espaço-tempo? A classificação é um esforço inglório e o que importa mesmo é reconhecer a obra como um registro histórico sim, mesmo afastado (ainda bem!) daquele enfoque político-institucional que privilegia os denominados “fatos importantes” ou mesmo economicista que estamos acostumados, desde os bancos escolares, a classificar como “História”.

Compreender a História de nossa Indaiatuba é uma forma de adquirir conhecimento através da interação do sujeito com o meio. Quando nos reconhecemos nas narrações do Penna, reforçamos nossa identidade como indaiatubanos e por consequência – mais rapidamente para alguns do que para outros, fomentamos as bases de nossa cidadania e consciência individual.

Ler e aprender sobre nossa cidade é uma forma de atribuir novos significados para ela: é reconhecê-la como “nossa”.

É reconhecer-nos como “seus”.

É criar vínculos com o meio social em que vivemos e assim, compreendermos melhor seus valores, seus conflitos, sua gente.

E esse renascer onde já nascemos ou vivemos é base para a construção de uma vida melhor, afinal conhecimento quase sempre leva a prática. Ao lermos Penna, ao partilhar suas histórias, críticas, piadas e até deliciosas fofocas, estamos fortalecendo a comunicação com nossa identidade social e reforçando decisivamente nossas ações, saindo de nossas ostras para compartilhar o mundo exterior.

E como é bom fazer isso lendo uma obra que nostalgicamente nos faz rir!


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[1] Nos Tempos do Bar Rex é o nome do livro do escritor Antonio da Cunha Penna, editado pela Rumograf e lançado em 30 de setembro deste ano.  Foram mais de 80 pessoas entrevistas para a reconstrução de vários temas que giram em torno do eixo temático escolhido: o bar Rex, importante ponto de encontro indaiatubano das décadas de 1940 até 1960.

Um comentário:

  1. Olá. Li esse artigo e gostei. Já tomei algumas garrafas no Bar tão bem retratado pelo Penna. Indaiatuba por um lado, já não era aquela pacata cidadezinha do dramático Crime do Poço, sua obra prima, que minha esposa leu outro dia e gostou muito, por outro lado ainda não era essa cidade que despontou para o industrialização e expansão urbana desses tempos contemporâneos. O Penna resgata o meio da estrada, ou seria o meio da garrafa, aquele momento entre a lucidez e a embriaguez. Talvez por isso, todos acreditam na veracidade do crime do poço, já o BAR REX, muitos acham ser uma lenda, agora imortalizada com toque de humor e diálogo histórico.

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