.
texto* publicado no jornal "A Gazeta de Indaiatuba" em 1955!
.
Maria Benedita Guimarães
.
Como é agradável relembrar o passado!
Como é agradável rever na imaginação certos quadros que com o decorrer dos tempos, caem no esquecimento!
Como é agradável rever na imaginação certos quadros que com o decorrer dos tempos, caem no esquecimento!
Indaiatuba antiga!
.
Indaiatuba de outrora!
.
As vezes fico a pensar e a contemplar este progresso, esta transformação alucinante e fantástica que está atravessando esta linda e mimosa terra dos indaiás, e, faz-me estabelecer um paralelo entre a Indaiatuba pacata e estacionária de 1910, 1911 mais ou menos e a Indaiatuba moderna, ativa e dinâmica de agora, e ...
.
Então custa-me as vezes crer na realidade autêntica dessa transformação e ... digo cá com os meus botões: - Agora tudo mudou!
.
Agora tudo modernizou!
.
Agora tudo está diferente!
.
Fico por assim dizer filosofando, e, ao cabo disto vem e chegam a minha mente recordações como estas:
.
Muitos de vocês, não sabem quem elas são, vão já saber.
.
Lourenço sem chapéu era um caboclo simpático e amigo das crianças, rosto largo, barba a Nazareno, três queimada, semblante risonho, usando paragatas, e estava sempre disposto a rir e a conversar para distrair a petizada. Como até pouco tempo, os homens usavam chapéu para completar a toilete, Lourenço, segundo o que dizia, em cumprimento a uma promessa, não usava , e daí então o apelido vulgar para ele - Lourenço sem chapéu.
.
No Natal, confeccionava com todo espero seu presépio e... então nós todos pequenos daquele tempo, ficávamos curiosos, e uns perguntavam aos outros e umas perguntavam as outras:
.
- Você já viu o presépio de Lourenço sem chapéu? E ele então com isso se orgulhava da sua perícia e, de ano para ano mais se esmerava nesse trabalho, pois isto constituía um privilégio todo especial seu, e que o deixava um tanto envaidecido. Era uma criatura boníssima e muito popular.
.
E Nha Nita Rabi?
.
Vamos a ela. Era uma velhinha magra, alquebrada pelos anos, rosto enrugado e cabelos brancos, e que a criançada rebelde e maliciosa a perseguia com os seus assobios ensurdecedores e com as suas vaias provocantes. Quanto Nha Nita Rabi apontava num das ruas, ou numa das esquinas a criançada já, toda aglomerada e aplumada começava: -- Nha Nita Rabi! Fiu- Fiu-fui!!!
.
A coitada corria desesperada com um cacetete na mão, e aos gritos e com palavras mais escandalosas e obscenas, corria atrás daqueles, que, já então a essa hora já haviam sumido na virada de alguma esquina, ou dentro de alguma casa ou corredor ou no buraco de algum boeiro.
.
Era um escândalo!
.
Mas ao mesmo tempo não deixava de ser uma distração não só para a molecada insolente, como também para os adultos pouco caridosos e de má inclinações.
.
Cenas como estas continuam o passa-tempo para os indaiatubanos da época, pois que o trabalho era escasso, e os divertimentos dosados.
.
Como vêm, Indaiatuba era diferente, e diferente em tudo!
.
Agora que tudo mudou, e que vejo esta terra no apogeu do seu progresso pela sua vida ativa comercial e industrial, pela sua instrução primária e secundária, que se estende cada vez mais, pelo seu casario que aumenta assustadoramente, enfim pelo muito que tem progredido e desenvolvido de uns tempos para cá, sinto-me orgulhosa e feliz de ter nascido a sombra dos indaiás desta terra sob as bençãos de Nossa Senhora da Candelária excelsa padroeira desta maravilhosa cidade.
E quero pois deixar aqui neste ano de 1955, ano que se comemora a fundação de “A Gazeta de Indaiatuba”, esta recordação do passado, para esta querida Indaiatuba, tão cheia de poesia, amor e encantamento!
.
..
......oooooOooooo.....
.
*foi mantida a grafia original.
.
.
(Nota EBS): Lourenço sem chapéu nasceu no século XIX e foi escravo de José Balduíno do Amaral Gurgel. Depois de liberto, viveu muitos anos no centro de Indaiatuba e está enterrado no Cemitério da Candelária - de pedras (do lado direito de quem sobre a rua). Em seu antigo túmulo de mármore branco entalhado, há um pequeno presépio (moderno) já desgastado pelo tempo, mas atual, do tipo que comumente se compra em lojas de produtos natalinos.
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário