terça-feira, 15 de setembro de 2009

Reminiscências do primeiro centenário de Indaiatuba (grafia original)

texto de "Mirto"

. publicado originalmente no jornal indaiatubano Gazeta do Povo em dezembro de 1930, nas comemorações do 1. centenário de Indaiatuba.
  .
.Nunca me senti tão poeta como hoje e no entanto nunca me senti tão ao contrário. .. 
que o Centenário de Indaiatuba veio bulir cá pelo amago d´alma para que eu me expandisse em phrases evocatórias. . 
Mas decepção. . 

Sou um pobre visionário e de letrados e litteratura eu entendo como todos daqui entendem porque o Vieira velho fuma em pito de barro.
 Não ria meu leitor amigo, porque é isso mesmo.

 Desde menino que eu penso em tal phenomeno e até agora não sahi do terreno das abstracções.
E por fallar em menino e como eu estava fallando sobre o Centenário (vejam como eu confundo as cousas), lembro-me quando tinha eu 6 annos e ia para a escola. . 
A escola daquele tempo não era Grupo Escolar como hoje; ostentava a designação de Escolas Reunidas. . 
Meus professores eram o Sr. Carlos (1) e o Sr. Galdino, estimados e hornados cidadãos, hoje, meus amigos dedicados.
Vejam como os tempos mudam. 
Naquelle tempo, meus meninos, a taboada era cantada e lia se salteado: fazia-se um furinho em qualquer papel, o sufficiente para caber uma palavra e o professor então, começava:
 _ “Menino, leia aqui”. 

Virava uma folha do livro e fazia o papelsinho furado correr e a certa altura parava em qualquer palavra, rematando:
 _ “É aqui, leia, vamos”.

E assim sequencialmente. 
Que recordações saudosas! . 
A noite, apesar da escuridão da cidade (naquelle tempo a iluminação de Indaiatuba era servida por lampeões á kerosene que o Nenê accendia todos os dias com um carrinho todo especial) brincava-se de pega-pega, cabra cega, barra manteiga, etc. .
Não raras veses o chá da noite era uma tamancada no alto do piolho que a mamãe muito acertadamente se propunha a dar. 
De manhã, com os outros meninos que hoje são homens e que têm filhos na escola, na mesma escola em que eles aprenderam, eu ia buscar água no chafariz com o carrinho de mão, esse mesmo que hoje constitue uma tradição desta querida terra. . 
Muitas vezes, o mais peralta convidava logo:
 _ “Vamo se lavá”.

 E então, ali no ribeirão do Bicudo, entregavamos ao prazer de nadar. 
Quão doce é recordar a meninice. . 
E os annos passaram, e Indaiatuba daquela época é a sombra do seu progresso atual. . 
As casinhas de então, deram lugar às casas modernas e aos bangalows, que enfeitam sobremodo a cidade. . 
O fumo que se desprende das fábricas enegrece o remotismo de um passado saudoso. . 
E a mocidade de hoje parece zombar das tradições e costumes da Indaiatuba alquebrada e carcomida!
Mas Indaiatuba, apesar de seus 100 anos que hoje festeja, parece mais moça, mais jovial. 
Efeito natural da evolução. . .. . .



Nota EBS: (1) professor Carlos Tanclér.

Aniversário de Indaiatuba
Fundação de Indaituba

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