domingo, 14 de agosto de 2011

Fatos e Coisas de Indaiatuba Antiga

fragmento de texto de EJOTAELE*
pseudônimo de Eutimiro José Lisoni (in memorian)

(...)

Para se ter uma ideia do que foi Indaiatuba, aos primeiros albores do século em curso**, de mil almas mais ou menos, com poucas ruas, providas de habitações coloniais, 300 casas, se tanto, sem qualquer relevo arquitetônico, destituído de qualquer utilidade do setor público, sem luz elétrica, sem água canalizada, sem esgoto, sem automóveis, sem médico...

Todavia, salva-se a doçura de seu clima e porque não dizê-lo o encanto de sua topografia, como ainda o é hoje, isto é, o admirável planiço de todo o seu perímetro urbano.

Em 1910 ainda se construíam paredes e muros de taipas e, como razão pertinente, existia a classe de taipeiros. Entre eles o Zé Taipeiro, o Chico Taipeiro e outros. Curiosa era a maneira com que os taipeiros, peitos desnudos, na sua faina verdadeiramente árdua, colocavam os enxaimeis e "batiam" o barro com grandes macetas de madeira. Esse trabalho, por vezes pitoresco, processava-se em cadência quase militar, entremeado pelo coro dos taipeiros, uma espécie de cantoria, mais ou menos entoada, mistura de afro e brasílico. O coro dos taipeiros e o "bam bam" característico das macetas, difundiam-se nos ares de tal maneira, que se concretizavam-se em eco soturno na quietude tumular de nossa Indaiatuba primitiva.


(Exemplo de arquitetura em taipa - casa no Parque de Jericoacoara,
Ceará - janeiro de 2010, acervo pessoal EBS)


O serviço de energia elétrica só veio a ser inaugurado em 1912, constituindo acontecimento incomum para a população que saiu a rua em massa para ver a nova maravilha. O de abastecimento de água, veio 23 anos depois, ou seja, no ano de 1935, mercê da evolução natural da política administrativa local.

O primeiro automóvel que apareceu na cidade, o que constituiu motivo de grande admiração, trouxe-o o dentista Odilon, um "Ford" antigo, de cor vermelha, aí pelo ano da graça de 1913; pouco tempo depois aparecia outro "Ford", também de cor vermelha, de propriedade de Eduardo Ferreira e tal era a buzina desse automóvel, que chamava a atenção da população inteira, quer onde se encontrasse. O primeiro motorista da cidade foi, entretanto, o Zuzuca Fonseca com o seu possante "Motobloc", marca de grande projeção na época.

Dois médicos  que residiam, um na cidade de Salto e outro na cidade de Itu, faziam suas visitas costumeiras a cidade dos Indaiás, uma vez por semana, cada qual fazendo seu "ponto" em uma das duas únicas farmácias que existiam, a do José Siano, mas tarde do farmacêutico Luis de Beneditis e a do Chiquinho Boticário, que outro não era senão o farmacêutico Francisco Xavier da Costa, que foi velho e estimado morador de Indaiatuba. esses dois abnegados facultativos, um era o Dr. Viscardi, figura simpática de médico humano e bom, que preferia a medicina empírica à medicina propriamente científica, mas por amor a gente do que pelo exercício so sacerdócio; o outro era o Dr. Castro, diametralmente contrário do Dr. Viscardi, porém, cirurgião de solar proficiência.

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* Originalmente publicado no Jornal Votura em 6 de maio de 1988 e republicado no livro " Gente de Nossa Terra - Terra da Nossa Gente" de Rubens de Campos Penteado, publicado em 2011.
** O Autor refere-se ao século XX, e seus textos narram fatos do início do século.

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