A primeira parte desta crônica você pode ler aqui e a segunda parte está aqui.
Crédito da imagem: fotógrafo Paulo José (paulo.kodak@hotmail.com)
Numa reunião com expressivo número dos respectivos proprietários-fundadores e de colonos, nomeados abaixo, foi decida na data de hoje (23.01.1898) a construção do terreno da Escola uma capela em louvor da Imaculada Conceição de Maria Mãe de Deus da Santíssima Trindade e do bem-aventurado patrono da Suíça, Nikolaus von Flüe. Foram feitas as seguintes determinações: orçamento previsto 16:000$000 (a construção chegou a ficar 28:000$000); dimensão da capela: lugar para 500 pessoas; altar-mor, sacristia, torre, coro, bancos e iluminação suficiente com vitrais. A execução geral do plano e direção da construção foi deixada a cargo de Franz Amstalden, mestre de obras. Foi eleita a seguinte comissão de construção: Fraz Amstalden, Anton Ambiel, Ignácio Ambiel, João Bannwart, Arnold Bannwart, Peter Wolf, Benedikt Amstalden.
Para o custeamento e execução geral dessa obra obrigaram-se sem qualquer reclamação e de acordo com as seguintes descrições da 1a. compra do ano de 1898: 1o. por um quarto: Anton, Igaz, Joseph Ambiel e Jospeh Gut; 2o. também por um quarto: João, Arnold, Luiz e José F. Bannwart, 3o. Peter Wolf e família por mais um quarto; 4o. Benedikt Amstalden e José Ambiel por 1/8 cada um, juntos 1/4 parte dos respectivos custos da capela. Além disso, prometem fornecer mão-de-obra e auxílio, com dinheiro e trabalho voluntário os seguinte moradores da Colônia e vizinhança: Franz Amstalden, Pius Amstalden, José Bannwart, Luiz Amstalden, José Leone Gut, Walter Gut, Melk Abächerli, Nicodem Shäli, José Amgarten, Antonio Ming, José von Ah, Luiz Britschgi, Isidor e Nicolau Amstalden, Konrad Muller, Simão Anderhalden, João Abächerli, José Berchtold entre outros mais, conforme acordo, foi lido e assinado por todos os proprietários que se responsabilizaram e, na verdade, ainda na presença do venerado Padre Bernardino dos Capuchinos, que a pedido de Peter Wolf assinou como testemunha.
A comissão de construção foi dividida da seguinte maneira: Presidente: Benedikt Amstalden; Tesoureiro: Anton Albiel; Secretário: José Gut; Chefe para material de alvenaria: Arnold Bannwart; Chefe para material de madeira: José Ambiel; Encarregado do parque de construção: João Bannwart; Chefe da cozinha: Ignácio Ambiel; Mestre de obras: Franz Amstalden. Nas obras de alvenaria trabalharam principalmente Pius Amstalden e Joseph Bannwart, como carpinteiros ao lado do construtor ainda Johann Aächerli e Peter Enz, como torneiro Benedikt Huggles, como entalhador Peter Zobrist.
No dia 5 de julho foi benzida a pedra fundamental pelo venerando Padre Bernardino da Ordem dos Capuchinos e na presença de numerosos convidados, entre eles o Vice Cônsul suiço em Santos Arnold Wildberger de Schaffhausen. Nessa ocasião foram depositados alguns documentos, selos e moedas na pedra fundamental. Os documentos versam sobre a imigração dos atuais colonos provenientes da Suíça nos anos de 1881 até 1887, bem como a compra e o decorrer e da fundação da Colônia e etc. A pedra fundamental se encontra " a esquerda sob o arco do altar na fundação, mede um pouco menos do que um metro cúbico e foi trazida de carro de boi por Joseph Grüninger. Esta, bem como a maioria das demais pedras foram retiradas na Serra d´Água da beira da estrada e foi preciso no total, para a fundações, trazer 170 carregamentos de carroça. A maior parte das madeiras foi retirada da própria terra. Em 7 de setembro foi erguido o espigão do telhado, em 15 de setembro foi erigida a torre. E hoje, 7 de novembro, graças à capacidade bem como ao trabalho conjunto de moradores da Colônia, que mão a mão dedicaram-se à construção, tanto quanto possível para terminar rapidamente, encontra-se a igreja totalmente coberta. O trabalho de reboco já está bem avançado, a elegante torre está ali concluída, para poder receber os documentos abaixo mencionados na sua esfera, e então imediatamente se retirar os andaimes. Foi por muita sorte, deve-se dizer, que até essa data, graças à Deus, não aconteceu o menor acidente. Pensa-se, se for desejo de Deus, em até 3 meses ter acabado a igrejinha por dentro e por fora, de forma que possa ser consagrada e, assim, o desejo ansiado há anos ser satisfeito.
Crédito da imagem: Arquidiocese de Campinas
Crédito da imagem: fotógrafo Paulo José (paulo.kodak@hotmail.com)
Crédito da imagem: http://olharesdeindaiatuba.blogspot.com.br/
...O recenseamento cifra 450 pessoas, das quais 282 são suíças, cuja propriedade pertence à respectiva colônia (isto é, em cujas propriedades toda a Colônia está. Os costumes paternos e religião herdados continuam sendo exercidos e transmitidos, bem como impera desejo geral, que a citada capela deve servir para sempre somente para os ritos católicos romanos. A propósito, a população está bem intencionada em relações mais chegadas (i.é. parentesco mais próximo) e a união caminha entre eles muito socialmente. Existe desde 1885 uma Sociedade de Tiro, desde o mesmo tempo uma Sociedade de Canto, que hoje sob a competente regência do Senhor Professor Max Landmann novamente desabrocha, o mesmo M.L. que também atua como professor das crianças da Escola. União fortalece, isto comprova atualmente a existência cheia de esperança.
Grupo de Música da Helvetia em 1899
A cultura cafeeira apresenta o melhor rendimento por aqui, também o são as demais plantações, bem como a criação de gado, abelhas e aves que não fornecem lucros insignificantes. Como o café atualmente está muito barato (680 réis por quilo no mercado) e, portanto, muitos fazendeiros afundados em grande crise, fala-se por toda parte de uma nova grande cultura rentável, que é a planta da mangabeira (seringueira?) de cuja seiva se pode obter boa borracha e já agora essa plantação de mangabeira é cultivada por grandes proprietários de terra em grande estilo (Mas ela nunca produziu algo).
O salário atualmente é muito baixo em relação aos caros gêneros alimentícios, assim, por exemplo, um trabalhador do campo ganha como diária 1$500 até 2 mil réis, como salário mensal 25 a 30$000 mais alimentação e moradia; operários ganham 4,5 a 6$000 e alimentação por dia. Batata é vendida por 10 a 12 mil réis por 50 litros, feijão pelo mesmo, ovos por 1$000 a dúzia, manteiga por 4-5$000 o quilo, 60 litros de arroz custam 25$000, 60 quilos de açúcar de 25 até 35$000, um saco de farinha por 20$000. Uma roupa de trabalho de algodão custa 18 até 20 mil réis, um terno de lã 70 a 100 mil réis. O preço do ouro atualmente é 8 _ ou 1125 réis por franco, 1 libra esterlina 29$000. Em relação à política, desde a queda da monarquia e implantação da república, vai sempre de mal a pior, maior crise financeira, grandes carestias, muita inquietação, etc., etc. Isso se atribui à administração de maus regentes.
Queira Deus que uma vez isso melhore.
Mais para se ler, na pedra fundamental.
Queridos descendentes, vós que algum dia tereis oportunidade de ler esse documento, lembrai-vos com o respeito de vossos antepassados, rezai pelos fundadores dessa igreja, que com amargo suor e grandes gastos foi para vós construída.
Permanecei fielmente solidários, sede pacíficos, tolerantes, unidos, sempre unidos, valorizai e praticai com amor os ensinamentos da igreja católica e o bom Deus vos abençoará e vós sereis felizes.
Isso vos deseja de coração, em nome da comissão de construção, assim como dos demais fundadores e bem-feitores da Igreja,
Anton Ambiel.
.....FIM.....
Fonte: Memórias - 150 anos de Anton Ambiel, livro cedido generosamente pela descendente Cléci Ildith Ambiel Noemberg.
O livro citado foi elaborado pela seguinte equipe de trabalho:
Antonio César Ferreira de Camargo Ambiel
Benta Célia Teixeira de Camargo
Cássia Veniti Ratti Zumstein
Célia Regina Wolf Antonioli
Clemes M.J. Ambiel Baptista Alves
Lisiane Maria Bannwart Ambiel
Luiz Antonio Ambiel
Luiz Tarcízio Zumstein
Maria de Lourdes Baraldi
Rubens Galdino Ferreira de Carvalho Filho
Com a colaboração de:
Arnold Albert Heuberger
Gabriel Ambiel Faccioli
Henrique Steve
Maria Alvina Krähenbühl
Sandra Zumstein.
Anton Ambiel nasceu em 1862 e faleceu m 1928. Consultando jornais da época em que viveu, achei referências à ele como sendo o "diretor e gerente" da colônia Helvetia, referindo-se ao importante papel que ele exerceu como líder político e comunitário. As crônicas que ele deixou (entre elas a que está acima) é de valor imensurável enquanto documento primário do período histórico da imigração ocorrida para o Brasil na segunda metade do século 19, representando também valioso testemunho do regime de colonato, sem contar a emoção contida no sensível trato aos antepassados.
Fonte: Coluna Culto Catholico do jornal CORREIO PAULISTANO de 1914
Schweizer Immigration in Brasilien Swiss immigration to Brasil
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