Estas fotos foram tiradas neste exato momento na frente do Casarão Pau-Preto, patrimônio tombado de nossa cidade, que foi caprichosamente restaurado no ano passado, após quase ir para o chão, após rompimento de uma adutora do SAAE.
O Casarão Pau Preto é atualmente a sede da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba e abriga um Museu bastante querido pela população, uma vez que diferente de muitos outros, foi "reinvindicado" e não foi imposto por uma classe ou grupo.
Ele surgiu para a atual função em paralelo a implementação da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba e abriga, junto com a Matriz Nossa Senhora da Candelária, a Casa Número 1, o Busto de Dom José, a Estação Ferroviária com a Locomotiva número 10 e o prédio e jardim do HAOC o chamado "Centro Histórico de Indaiatuba".
Por ter sido construído com técnicas de taipa e ter sobrevivido ao tempo e a especulação imobiliária, ele é referência arqueológica, artística, arquitetônica, histórica. Também é referência sentimental, emocional, de beleza, de estética e está presente na memória de várias gerações de indaiatubanos que lembram de lugar como biblioteca, teatro, jongo, escoteirismo, contação de histórias, teatros, exposições, saraus, música, dança, cursos, informática, oficinas e tantas e outras tantas memórias relacionadas há vários saberes que já são seculares.
Na manhã de hoje novamente ele esteve em risco. Risco que não pode estar exposto.
O abalo de sua frágil estrutura não coloca em risco apenas suas paredes de taipa com as vibrações. Coloca em risco todos as memórias e histórias que ali se concretizaram e que vão e vem, a cada dia, no coração e mente de cada visitante, de cada pessoa que por ali ficou, que por ali passa.
Ele nos pertence, e sendo meu e sendo meu, não ruirá.
Enquanto for meu e nosso, nenhum caminhão ficará balançando ali na frente, ameaçando suas estruturas, meu coração, nosso coração, minha memória, nossas memórias e grande parte do que é a identidade de nossa cidade.
Não desistiremos nunca de você, querido Casarão, nem que para isso, como hoje, os funcionários tenham que levantar de suas cadeiras e ir lá. inclusive, novamente, o Superintendente da Fundação Pró-Memória ser destratado - de novo - pela iniciativa privada - ao tentar defender o que é nosso.
Como diz o pop Papa Francisco, o Casarão é nossa casa comum.
Pós-escrito (1) - 22/09/2015 14:21 - A Construtora assumiu que vai executar o serviço necessário para o encaminhamento da obra mantendo o veículo em zona minimante distante do local proibido, no qual não coloque o Casarão em risco e ao mesmo tempo possa executar o processo, Assumiu ainda fazer um Estudo de Impacto (na verdade está sendo feito nesse momento) no qual assume qualquer consequência de possível impacto que possa ser causado ao patrimônio, como já vem sendo feito.
Pós-escrito (2) - 22/09/2015 16:32 - Acompanhamos em campo o processo. Há uma bobcat pequena fazendo a retirada e o caminhão com terra dá a ré, sem passar pela frente da rua do Casarão.
UM POUCO DE TEORIA
A restrição à passagem de caminhões na rua em frente ao Casarão teve início no ano passado, após o restauro que aconteceu quando uma adutora do SAAE rompeu-se causando graves danos à centenária construção feita com a técnica de taipa de pilão.
Na ocasião o sonho dos preservacionistas era fechar a rua de uma vez por todas, fazendo um passeio no entorno de toda a Matriz. Mas já era tarde, dois prédios já estavam sendo construídos, um em cada esquina e isso seria impossível. A solução foi reduzir a largura da rua e impedir a passagem de caminhões.
A discussão sobre o impacto e os caminhões causam em patrimônios históricos edificados é antiga no mundo, mas no Brasil ela tomou voz principalmente a partir da década de 1990 na cidade de Ouro Preto. Ali, foi tomado como base principalmente dois estudos: o primeiro, mas antigo, feito pela Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (GEIPOT) e de outro, mais recente (2008), financiado pelo Programa Monumento Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, vinculado ao Ministério da Cultura, ambos apontando efeito negativo do impacto causado pelo trânsito de veículos pesados em prédios históricos.
Neste link você pode ler um pouco mais sobre ANÁLISE DO RISCO DE DANOS POR VIBRAÇÃO
MECÂNICA NOS MONUMENTOS.
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