"Um grupo de senhores de nossa cidade, grandes aficcionados pela música instrumental, uniram suas forças e criaram a Corporação Musical Santo Antonio". Essa foi a noticia dada com muita alegria pelo jornal Tribuna de Indaiá no dia 23 de maio de 1976.
Os dignos senhores foram: Waldemar Bérgamo, José Fanger, Francisco Garcia, José Paulino, José Rodrigues, Benedito Bértoli e Gilberto Pinto. A estes iniciadores juntaram-se também os senhores Sivaldo José Bértoli e João Rosa, este último oferecendo a sede gratuitamente na rua 5 de julho 1542, onde os ensaios eram realizados semanalmente, todas as sextas-feiras.
A banda sempre foi citada em eventos registrados por cronistas, memorialistas e historiadores que até agora se encorajaram a escrever sobre a História local. Rubens de Campos Penteado descreve a formação de uma delas no ano de 1916, quando nela tocava o grande clarinetista Nabor Pires Camargo e seus irmãos. Até uma foto belíssima dessa formação existe no arquivo da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, guardada com esmero. O cronista Ejotaele, que descreve Indaiatuba das primeiras décadas do século XX, conta da Bandinha do Dunga e da que a precedeu, a Corporação Musical Lira Indaiatubana, esta última também retratada pelo pesquisador Nilson Cardoso de Carvalho.
Consta que na data a Corporação Musical Santo Antônio foi composta pelos seguintes músicos: Waldemar Bérgamo (presidente), José Rodrigues (Maestro), Francisco Garcia, Moacir Meneses, Benedito Bértoli, Odair Bértoli, José Donofre, Irineu Baggi, Vergilio Solis, José Fanger, Geraldo Caldeira, José de Almeida, Decilio G. Frohm, João Rodrigues, Geraldo Pavan, Antônio de Almeida, Carlinhos e Dorival de Campos.
É de suma importância uma Corporação Musical para a cidade - registrou a edição do citado jornal - e a vida dela depende da colaboração de cada munícipe. Tanto é verdade que os próprios músicos, através de seu presidente, apelam para todos que gostam de participar de bandas, como músicos ou apenas colaboradores, que já existiram em Indaiatuba, se manifestem à Corporação Musical Santo Antônio que serão recebidos de braços abertos.
Podemos concluir pelo conteúdo da reportagem que além de convocar músicos voluntários para aumentar a quantidade de talentos na banda, ela já nascia sob a regência da boa-vontade e às custas da vaquinha dos simpatizantes, pois política pública para mantê-la não havia. Já foi arregimentada precisando de mecenas, mesmo que fossem estes seus próprios componentes.
Vamos, portanto, dar todo nosso apoio à BANDA, convocava à Tribuna, solidária ao pedido. E completava: ... ela traz, em si, o espírito vivo de civismo (palavra tão em moda em plena ditadura militar), alegria contagiante e a reaproximação dos homens às suas tradições.
Não deixemos morrer, mais uma vez, a BANDA em nossa cidade! Ela se reergueu para ser eterna. Vamos acolhê-la com carinho... incentivava mais ainda a Tribuna (!). Os tempos editoriais eram realmente "outros tempos". Analisando os jornais da década*, vê-se a obscuridade com que o nefasto regime implementado com um golpe militar era tratado. Ao mesmo tempo dessa incômoda escuridão, dessa ausência que hoje afeta quem olha para o passado, podíamos testemunhar rompantes como esse em que, o redator (que no caso não assinou o artigo) podia dar sua opinião de forma visceral, comemorando, aclamando pela "volta ao passado", demonstrando sem disfarce que era um conhecedor da história de nossa Indaiatuba. Ele brada ajuda elegantemente e isso o conforta pois pode recuperar, para ele, uma época perdida; ele não disfarça a nostalgia.
Acho falta de reconhecer o escritor em um texto. Hoje a impessoalidade tornou-se procedimento e, como disse minha mestra Mônica Kimura no curso de quarta-feira passada, muitas vezes as notícias são i-gua -iiii-ziiii-nhas; só se muda a data, local e nome do sujeito (isso quando esse não é ocultado).
Mas voltemos à ressoante Santo Antônio.
A profecia não se concretizou e a banda se desmantelou; não se eternizou como quisera o emocionado jornalista. Em 1979, portanto três anos depois, nascia a Corporação Musical Villa-Lobos que já passou por altos e baixos e desde 1994 está sob regência de Samuel Nascimento de Lima, atualmente sob apadrinhamento cultural de Wladimir Soares.
Que desta vez a profecia se cumpra!
Imagem da Corporação Musical Santo Antônio
Crédito: Tribuna de Indaiá de 23/05/76
(cite a fonte ao usar textos e imagens em suas pesquisas)
* Edição do Jornal da Tribuna de Indaiá da Hemeroteca do Arquivo Público "Nilson Cardoso de Carvalho" da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.
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