No
dia seguinte, sábado, 14 de dezembro [1],
veio de São Paulo, o médico legista da polícia, o Dr. Alfredo de Castro para a autópsia, que após “deferir seu compromisso formal de bem e
fielmente desempenhar sua missão, declarando com verdade o que encontrar e
descobrir e que em sua consciência entender” assim declarou em 15 de
dezembro de 1907:
“Nos fundos de um pequeno prédio da cidade de
Indaiatuba, de um poço de cerca de cinqüenta palmos de profundidade e cinco de
diâmetro... [foi retirado um corpo que foi]... colocado sobre uma larga folha de porta...
[que serviu]... como mesa... [para a autópsia do]... cadáver de um indivíduo de cor branca,
estatura regular e constituição forte, reconhecido ser Domênico de Lucca,
italiano de dezoito anos de idade, solteiro, negociante, filho de Modesto de
Lucca e residente em São Paulo, na Rua Santa Rosa número trinta e três. Trajava
meias de lã, ceroula e camisa de algodão listado, calças e paletó de casimira
preta. A metade superior do corpo achava-se envolvida num saco de juta,
amarrado por uma corda. Despido dessas vestes, o cadáver achava-se em estado
adiantado de putrefação e apresentava um ferimento contuso de forma linear... A
cabeça achava-se presa ao tronco apenas pelo tecido muscular e pele da nuca... Na
cavidade craniana...
[foram encontradas] duas fraturas
sendo uma na região esquerda do frontal e outra na do parietal... Domingos de
Lucca faleceu vítima de convulsão cerebral e hemorragia cervical, produzidos
por instrumento contundente e cortante.”
“A repercussão do crime abalou a
cidade. Havia um estado de excitação geral do qual não se livrara nenhum dos
habitantes. Palavras de protesto e uma onda de indignação levava pequenos
grupos, logo ampliados, a exigir justiça a qualquer custo... Tal estado de
espírito irradiou-se em todas as direções. Como se viu depois, um desprezo
profundo aliado ao ódio irracional daqueles que sequer haviam conhecido a
vítima foi dirigido a familiares dos culpados, fossem adultos ou crianças [2].
O
filho de Eugênio C., que morava em Itu foi descrito com uma pessoa humilhada e
acossada pelo crime cometido pelo pai. Escreveu uma carta para que a mãe saísse
de Indaiatuba a fim de não ser perturbada por uma culpa que não era sua.
Aconselhou a mãe que esperasse passar dois ou três meses antes de mudar-se,
para que não sofresse, também naquela cidade, o impacto da ira e popular. As
crianças filhas de Antônio N, sem mesmo entender a extensão da tragédia, sem
compreender o porquê da loucura do pai, foram seguidamente apontadas na rua,
com execração e agressividade, até o ponto de passarem a evitar o convívio com
outras crianças [3].
[1] As informações deste capítulo são advindas dos autos do processo
[2] DOTTA. 1985. p.28
[3] Idem. p.36
Este capítulo conteve a gentil revisão de Antonys Bronislaw Drabeck. Onde se lia "excreção"; passa-se a ler "execração". Revisão em 20/08/2018).
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