terça-feira, 3 de março de 2015

Os circos de cavalinhos (e os primeiros cinemas de Indaiatuba)

Texto de Ejotaele



Em 1908, se bem nos lembramos, foi ter a Indaiatuba, um dos primeiros circos de cavalinhos com o nome "Circo Clementino".

Os circos de cavalinhos, quando aqui começaram a aportar, faziam com que o acontecimento tomasse um cunho rumoroso e de sua importância, dada à ausência completa de diversões.

Os espetáculos geralmente funcionavam em grande parte de seu período sob a algazarra do povo.

_ Que saia! Que saia! Que saia o homem que come fogo!

A alegria da criançada chegava ao auge e os meninos pobres, quando não acompanhavam o palhaço pelas ruas da cidade para entrar na graça, arriscavam-se a passar por baixo do pano, no que eram, muitas vezes, pilhados em flagrante e castigados...

Os garotos preferiam acompanhar o palhaço quando este saía à rua a fim de anunciar o espetáculo da noite. Era com entusiasmo fora do comum que eles, porte marcial, marchavam atrás do palhaço e sua cavalgadura em coro estridente:

O palhaço o que é
É ladrão de muié
O sol suspende a lua
Bravo palhaço que sai à rua...
Hoje tem marmelada?
Tem, sim senhor.


Não há nada, realmente, que envelheça tanto como vermos na lembrança as coisas já tão remotas.

O advento do cinema registrou-se em Indaiatuba relativamente tarde. Imagine-se que só aí pelo ano de 1910 é que um empresário de nome João Fazano, aí aportou e plantou ali no Largo da Matriz, em um terreno baldio, o seu cinema ambulante à maneira de circo, com cobertura de pano!

Foi uma festa impressionante a sua primeira exibição, não só para a garotada de Indaiatuba, como também para gente grande!

Lembramos bem a primeira "fita" muda que o cinema barulhento de João Fazano exibiu. Tratava-se de uma cena cômica em filme tremelicante, cheio de ruído peculiar aos aparelhos cinematográficos de então, em que culminava com um dos encenantes a beber cerveja num vaso sanitário...

Não é preciso dizer das risotas que provocou e da galhofa da petizada.

Alguns anos mais tarde, Indaiatuba teve oficialmente os seus primeiros cinemas: o "Recreio", de propriedade de Nicolau Carderelli, sucedendo-o, após, Miguel João; o "Progredior" de propriedade de Domingos Gazignato, ambos localizados na Praça Prudente de Moraes.

Era comum, antes das sessões cinematográficas, a Banda de Música regida pelo saudoso Estelino Minioli executar marchas e dobrados, à porta do cinema "Progredior". Quando a banda rompia com o seu dobrado habitual, era sinal que a sessão ia ter início logo após pitorescamente...

Durante a exibição dos filmes, como não houvesse orquestra na cidade, os musicistas da Banda supriam essa falta no cinema "Progredior"; já o cego Alberto com sua sanfona e Inacinho Antunes no baixo tocavam no "Recreio".

Quanta gente daquele tempo não se lembrará dos filmes seriados, famosos na época, que eram assunto obrigatório de uma semana inteira, pois só havia cinema aos domingos! Calcula-se que até apostas havia!

Os filmes que mais se identificaram no espírito da população foram: Estranguladores de Nova York, Mistérios de Nova York, Ravengar, A Casa do Ódio, O Grande Segredo, Nas garras do Leão e tantos outros.

Os atores cinematográficos em voga eram: Pearl White, Antonio Moreno, Eddie Polo, Francis Ford e Maria Walcamp.

Algum tempo depois, tendo o "Progredior" encerrado suas atividades, surgia o Cinema Internacional de propriedade da "Corporação Musical Internacional" figurando, como diretor, Ernesto Laurenciano e que teve um período de fastígio.









Francis Ford





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CIRCO DE CAVALINHOS
(samba de Ary Barroso)


A vida é um circo 
Um circo de cavalinhos

- O palhaço quem é? 

É o coração da gente 
Que faz pirueta 
Pelo "amô" de uma "mulhé" 
Os olhos de uma certa morena 
São duas feras 
Pra qualquer domador 
Cai na jaula dessas feras para ver 
Como és capaz de morrer 
Nas garras do amor 
No circo, a gente vê comumente 
Andar um homem 
Sobre a faca e facão 
Eu não ando, mas um dia engoli 
Engoli fogo e sofri 
A dor de uma paixão 
Eu nunca tive jeito pra coisa 
Mas uma vez 
Dei um salto mortal 
Da janela à rua 
De um bangalô 
Juro que outro não dou... 
Que salto colossal!! 




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Segundo Ermínia Silva*, o circo como se conhece hoje, dito moderno - para diferenciar dos circos gregos e romanos -, nasceu no final do século XVIII, na Inglaterra. “É resultado da união de membros da Real Cavalaria Inglesa, com artistas de rua, do teatro, da dança. Ser artista circense significava dominar várias linguagens. Eram artistas completos – atores, acrobatas, dançarinos”, comenta. Só no início do Século XIX, conforme Ermínia, é que estes espaços de apresentação passaram a se denominar circo. Mas a autora estabelece muitas diferenças entre o circo moderno e o circo de gregos e romanos. “O moderno apresenta um espetáculo de entretenimento e não de jogos, nem de morte, como acontecia em Roma, por exemplo”.
Ela diz que o circo chegou no Brasil no início do século XIX. “O primeiro registro é de 1930. Mas antes disso, em 1810, pesquisadores argentinos já registravam a presença de circos brasileiros em Buenos Aires”. O circo, segundo a autora, não nasce na lona, mas em espaço físico feito de alvenaria e madeira. Por conta disso, passavam muito tempo no mesmo local. No início, eram denominados circo de cavalinhos. “Se não tivesse cavalo não era considerado um bom circo. Os cavalos também eram importantes para transportar os equipamentos. Alguns eram usados como tração, para puxar as carroças, outros eram montados”, conta..

*Fonte: “Circo Teatro: Benjamin de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil”, da doutora em História Ermínia Silva.

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