Texto de Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus
Superintendente da Fundação Pró-Memória, Doutor em História Cultural e Pesquisador da Unicamp/IFCH
originalmente publicado no jornal Tribuna de Indaiá em dezembro de 2015.
O Dia 9 de Dezembro é a data comemorativa comumente chamada "aniversário de Indaiatuba". Mas o que comemoramos de fato nesse dia recheado de programações e festividades? A data marca a elevação do arraial à categoria de Freguesia, a menor divisão administrativa do país naquele momento. Nesse caso, o território e a população estavam subordinados eclesiasticamente a um pároco.
Cabia à Igreja produzir e tomar conta da maior parte dos registros civis, batismo, casamento, óbito, matrimônio. Um arraial era elevado à categoria de Freguesia pela Diocese quando pudesse manter um vigário à custa dos seus paroquianos e da Diocese, ou quando elevado pelo governo o Vigário, - nesse caso denominado Colado - custeado pelo Estado. No entanto, tal divisão administrativa carecia de autonomia política, o que seria alcançada em 24 de março de 1859 com a elevação de Indaiatuba a Vila. Assim, entre outras atribuições, passava a contar com a Câmara de Vereadores, com direito a cobrar impostos, baixar leis e receber o juiz de fora.
Em um artigo de Marcos Kimura publicado aqui na Tribuna em 5 de dezembro de 2009 (que, ainda, podemos ler no blog História de Indaiatuba, de Eliana Belo) ou no próprio artigo da historiadora presente no mesmo espaço, temos uma análise acurada e detalhada sobre o histórico da divisão administrativa e política da cidade, o que me possibilita a explorar outras questões referentes ao tema.
Os Conselheiros da Fundação, que são responsáveis há décadas pela divulgação e preservação da memória da nossa cidade, têm um arrepio quando ouvem a frase: "9 de dezembro dia de fundação da cidade!". Tal indignação ocorre com toda razão, pois a data é uma dentre várias no processo de constituição do que hoje é a cidade Indaiatuba. Processo que vai ganhar força em 1859, mas vai terminar somente no século XX com a criação de comarca.
Além disso, será que não podemos pensar que a origem de Indaiatuba retoma também aos idos do século XVIII enquanto "parada de tropeiros, que se dirigiam das regiões de Sorocaba e Itu para Campinas", como cita Silvane Leite (2007, p.11-12) em sua Dissertação de Mestrado. Ou antes ainda, no final do XVII, quando Antonio Pires de Campos, o "Pai Pira", famoso bandeirante, veio se concentrar em Itaici, com sua família, agregados e mais um exército de 550 índios, como nos apresenta Leo Godoy em uma obra ainda inédita sobre essa versão da constituição da cidade?
Deve-se atentar que tais dados foram resultados de compilações documentais feita pelos pesquisadores e não meras suposições baseadas no "que se ouviu falar". Situação que nos dá uma maior segurança para pensarmos nos vários significados da data antes de pensarmos na "origem" da cidade, que no meu entender não acontece em um só momento, em um só lugar específico, até porque como bem escreve Eliana Belo: "a fundação de uma cidade nunca é obra de um homem só".
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