Eliana Belo Silva
Novembro/2008
Novamente estamos diante de um descaso – para não dizer violento assalto – ao patrimônio histórico e a memória, desta vez ferroviário, que está virando sucata, segundo a polícia federal, por culpa da empresa América Latina Logística (ALL), que possui a concessão de uso da malha ferroviária após o triste fim de organizações públicas como a FEPASA. O negócio está rendendo milhões e já foram comprovadamente sucateados mais de 3 mil vagões, trilhos, e outros materiais rodantes ou não da antiga malha ferroviária.
Há muitos aspectos indecorosos na história: a cara de pau da ALL, a quadrilha formada pelo comércio de sucata (ferro-velho), a lentidão da polícia federal, que já está investigando o caso há muito tempo. Mas o que mais me entristece é o descaso da maioria da população, que por simples ignorância fica à margem dessa afronta sem ao menos entender que isso é um assalto também à sua memória, a sua identidade, ao seu passado, ao seu futuro.
Sim, porque o patrimônio ferroviário também faz parte da nossa História! Mas muitas ações inversas, mesmo que pontuais, acontecem e devem ser registradas e valorizadas. Temos que ter a habilidade de ver “o outro lado” dos fatos históricos e não ficarmos apenas com aquela sensação de derrota, de vazio. Muito pelo contrário: olharmos o que está sendo feito de bom para a conservação desse patrimônio é uma forma de resistência, é uma forma de exercer nossa cidadania e, de quebra, fazermos um turismo cultural e divertido, principalmente para a criançada de férias.
O nosso museu ferroviário aqui em Indaiatuba é um ótimo exemplo. Lá está a lindinha, cuidadosamente conservada, a locomotiva número 10 da extinta (snif) Companhia Sorocabana! E antes de ser a número “dez” ela foi mais majestosa ainda, ela foi nada mais nada menos do que a número 1 da também extinta (buááá) Ytuana. Além da locomotiva, no local há fotos, objetos e documentos que contam não só a história da ferrovia na região, mas a sua história. Sim, é a minha, a sua, a nossa história que está lá e enquanto tivermos a visão míope que não fazemos parte dela, outras “ALL”, ávidas por sugar o valor financeiro - que é mínimo diante do valor cultural e histórico desse patrimônio - estarão vampiristicamente à espreita.
Outra iniciativa recente em prol a nossa identidade e ao patrimônio ferroviário foi um projeto conjunto entre a Secretaria dos Transportes Metropolitanos e a Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo de São Paulo: a instalação de um trem turístico que vai da Estação da Luz até Jundiaí, com um roteiro que inclui, após o desembarque nesta cidade, uma visita a alguns pontos turísticos do Circuito das Frutas.
Também uma ótima opção de lazer, principalmente para a criançada que nunca andou de trem (ôba)! O caminho trilhado vai usar a malha da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e segundo Ayrton Camargo e Silva, gerente de planejamento de transporte da CPTM o mais importante é que o “expresso vai criar uma ligação inesquecível entre história, cultura e diversão”.
Imagem da composição do Expresso Turístico, do fotógrafo Jair Pires,
cedida por Ayrton Camargo e Silva da CPTM.
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