(texto atualizado em 19/11/2015)
O superintende da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, o prof. Dr. Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus recebeu contato de Edney do Carmo, presidente da Associação de Artistas Plásticos Marianense esta semana, após a terrível tragédia ecológica, social e econômica que atingiu inicialmente Mariana (MG) e está causando impacto imensurável após o rompimento da barragem que parte da mídia insiste em dizer ser "lama" quando na verdade é um lodo composto por metais pesados.
Edney pede ajuda a nossa cidade, via Fundação Pró-Memória, após termos estabelecido laços de amizade na ocasião após o restauro do Casarão em 2014, em que foi feita uma mostra com os artistas plásticos de Mariana, mais especificamente da Associação de Artistas Plásticos Marianense. (relembre aqui).
Edney e os artistas plásticos de Mariana estão desenvolvendo tarefas educativas através da arte com crianças e jovens desabrigados, que encontram-se neste momento (e não sabemos por quanto tempo) em estado de vulnerabilidade. Para o próximo curso, estão previstas 70 crianças.
São cursos de arte oferecidos em nossa sede - informa Edney . Só que precisamos de parcerias para captar materiais de uso para os alunos, inclusive para o próximo semestre, quando já planejamos cursos com duração de até 4 meses.
A lista de material que ainda é necessária é composta por:
- Lápis de desenho 2B
- Lápis de desenho 6B
- Borracha Branca
- Bloco de papel canson tamanho A3 ou A4
- Paleta para tintas
- Pincéis
- Pincel 181/0
- 181/4
- 181/8
- 181/12
- 182
- 191/16
- 191/22
- Tintas acrílicas ou a óleo nas cores
- amarelo
- ocre claro
- dourado
- amarelo indiano
- amarelo limão
- amarelo ocre claro
- azul da prússia
- azul cobalto escuro
- branco titânio
- carmim
- cor de pele
- carne
- laranja
- magenta
- preto
- terra siena queimada
- verde esmeralda
- verde vicie
- vermelho francês
- sépia
- telas para pintura 30 x 40
Neste momento que tanto nos sensibiliza podemos colaborar doando esses materiais, levando no Casarão Pau-Preto.
Caso você não tenha nada para doar, por gentileza, compartilhe esse post em sua rede social. No alto dessa postagem há um símbolo do facebook, é só clicar que vai para sua página, ou então copiar e colar o texto.
Indaiatuba e Mariana - cidades irmãs unidas na tragédia - pela cultura.
Colabore!
5 de novembro de 2015
Nascentes do rio Gualaxo do
Norte, borda leste do Quadrilátero das Montanhas e das Águas, a 1.000 metros de
altitude. Logo acima do povoado colonial de Bento Rodrigues.
Bastou um átimo para que 60
milhões de metros cúbicos de lama, depositados por uma mineradora ao longo de
anos de operação, se precipitassem rio abaixo, numa avalanche terrível.
Ela logo colheu Bento Rodrigues,
seguindo depois em direção ao rio Piranga. O caudal ganhou o rio Doce e cruzou
Minas Gerais, até chegar – inacreditavelmente – ao Oceano Atlântico, centenas
de quilômetros abaixo.
No rastro dessa tragédia
continental, mortes, desespero, traumas, prejuízos econômicos, destruição do
meio ambiente e perda de patrimônio histórico-cultural.
Passada a emergência, haverá um
mundo por fazer: avaliar, indenizar e compensar cada vítima e cada dano;
planejar e executar ao longo de anos, da melhor forma possível, a recuperação
ambiental; finalmente, compensar de forma inequívoca a degradação – talvez
irreparável – causada ao rio Doce.
A escala do 5 de novembro tornará
risível e imoral qualquer coisa diferente disso. Não é o momento de se
patrocinar reformas de praças e eventos de final de semana, como certamente
desejarão os populistas e demagogos. Eu falo da preservação – para sempre – de
milhares de hectares nas nascentes do Doce, como na Serra da Gandarela. E da
urgente revegetação da bacia como um todo, com a volta da sua Mata Atlântica.
Chegou a hora da verdade para a empresa e as suas controladoras – as duas
maiores mineradoras de ferro do mundo.
Ao mesmo tempo, precisaremos
entender com profundidade tudo o que convergiu e se acumulou para que, naquele
átimo, tanto se perdesse. Inquéritos nos formatos judiciais e policiais têm
outro foco, e sua metodologia não dará conta dessa tarefa. Apenas um amplo e
isento painel técnico-científico e histórico trará as respostas necessárias.
Muitas perguntas nos assombram.
Não existe tecnologia condizente, ou ela não foi usada? Houve desleixo,
incompetência ou má-fé? A regulação não seria complexa demais? As responsabilidades
de cada um são claras? O Estado, nesse tema, é capaz de exercer as suas funções
regulatórias? Existem corpos técnicos estáveis e independentes, tanto nas
empresas quanto no setor público? A participação da sociedade é adequada?
Existe captura de parte a parte? A legislação é virtuosa? O zoneamento
ambiental, com a proteção das áreas sensíveis, está funcionando? Existe
transparência em todo o processo?
Precisamos ainda pensar nas
outras barragens de rejeitos em operação no Estado: alguém precisa nos garantir
urgentemente a sua segurança. E há as barragens abandonadas – como a da
Extrativa Paraopeba, em Brumadinho, e a da Mundo Mineração, em Rio Acima. Esta
última era uma mina de ouro, e contém efluentes perigosos.
Nos seus arredores, em 2011,
muito cianeto vazou da Mineradora Serras do Oeste, em direção a dois afluentes
do rio das Velhas. Por sorte o material foi contido a tempo. Onde estão
mecanismos como a certidão negativa ambiental para a autorização de pesquisa e
de lavra? Não deveria existir uma apólice de seguro para cada barragem?
E os atuais planos do setor, que
incluem três gigantescas barragens em terra, construídas quase lado a lado, nas
margens do rio das Velhas?
Maravilhas III, em Itabirito, com
capacidade para 90 milhões de metros cúbicos de lama e um paredão de terra de
80 metros de altura. Fazenda Velha, em Rio Acima, com capacidade para 600
milhões de metros cúbicos e um paredão de 180 metros de altura. E Prata, em
Raposos, com a possibilidade de receber 650 milhões de metros cúbicos de lama
(?!) e um paredão de 129 metros de altura.
Os faraós da mineração e suas
pirâmides da morte precisam ser contidos.
Finalmente, alguma solução haverá
de existir para a simbiose entre o setor mineral, segmentos do Estado e os
grupos políticos ocupantes do poder. São conexões bem explicadas nos estudos
sobre duas formas deturpadas de capitalismo: o Capitalismo de Estado e o
Capitalismo de Compadrio. No caso de Minas elas resultam em um sistema que
batizei de “mineriocracia”.
Vejam como ela funciona neste
exato momento. Em meio a toda essa agenda, mais do que complexa, segue
tramitando em urgência máxima, na Assembleia Legislativa, o projeto de mudança
na legislação ambiental do Estado. Com impactos diretos na aprovação e no
monitoramento das minas. Mineriocracia na lama.
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