O bairro que começou como um pequeno vilarejo construído para 560 pessoas, hoje é oficialmente chamado de Jardim do Sol. É um exemplo de força de vontade e união, mostrando que os moradores, quando juntos, podem conquistar diversos benefícios e colaborar com o crescimento e evolução do lugar onde vivem.
Muitas histórias sobre Indaiatuba podem ser contadas,
algumas mais vivas nas memórias, outras mais documentadas nos papéis amarelados
pelo tempo e guardados em inúmeros arquivos. Até o século 18, a província de São Paulo quase não possuía
núcleos urbanos e, na região, existiam apenas as duas vilas, a de Itu e
Jundiaí. Foi então que, por volta da segunda metade do século, o Governo
Português implementou uma vigorosa política de incentivo à produção de açúcar
na província. Em seu início, o povoado de Indaiatuba foi um dos bairros
rurais pertencentes à Vila de Itu, que ficava no caminho da passagem de tropas
para o Sul. O povoado também servia de ligação à atual Sorocaba e funcionava
como um caminho para o Centro-Oeste, levando às vilas mineradoras de Mato
Grosso e Goiás. Ainda no século 18, os caminhos para o interior eram estreitos,
sendo percorridos com o auxílio de mulas, burros e cavalos, que transportavam
todo o comércio regional e de exportação.
Desse período até o início do século 19, encontra-se algumas
referências aos bairros de Piraí, Itaici, Mato Dentro, Buru e Indaiatuba. Como
aconteceu também com outros povoados próximos, a dinâmica econômica trazida
pela produção de açúcar e aguardente mudou a vida dos pequenos bairros rurais
que formavam o povoado: em praticamente cem anos, o número de engenhos cresceu
de tal forma que, por volta de 1850, não havia em Indaiatuba um só córrego com
queda suficiente para mover uma roda d’água que já não tivesse a sua própria
‘fábrica de açúcar’.
Dando um salto na história e chegando ao século 20, em 1964
Indaiatuba tinha 22.928 habitantes e uma ‘cara’ tipicamente do interior, onde
todos se conheciam. A vida era pacata e sem muitas novidades. A cidade crescia,
porém a passos pequenos. Até que, a partir da década de 1970, o crescimento
avançou, baseado principalmente na expansão das indústrias e serviços.
A cidade
viveu um surto modernizador que visava deixar o passado de lado e encarar uma
nova fase, embalada pelo crescimento econômico daquele momento, ainda mais com
a expansão industrial ligada à chegada de empresas internacionais e com o
modelo da recém-inaugurada capital federal, composta por arquitetura e proposta
modernistas.
Campinas e Indaiatuba, na época, instalavam o seu Distrito Industrial, onde se destacava a fábrica de carros da Mercedes-Benz que, na
oportunidade, acabou criando, aqui no município, um bairro para seus operários,
levando o nome da empresa automobilística: Vila Mercedes. “A gente trabalhava
em São Bernardo, mas já haviam planos da Mercedes-Benz se instalar em
Indaiatuba. Quando isso aconteceu, a fábrica trouxe um grupo de funcionários
para cá, mostrando uma maquete de onde seriam construídas as casas dos
trabalhadores”, lembra Guilherme Padetti, ex-trabalhador da fábrica e atual
presidente da Sociedade Amigos do Bairro Jardim do Sol.
Inicialmente, a Vila Mercedes, foi criada para receber 560
famílias de operários, transferidos das regiões metropolitanas da grande São
Paulo para trabalharem na unidade Mercedes-Benz de Campinas.
Hoje, oficialmente, o bairro, criado no dia 19 de fevereiro
de 1979, recebe o nome de Jardim do Sol, mas, naquela época, apenas os
trabalhadores que atuavam na indústria eram os moradores do local. Entretanto,
a fama de progresso foi tanta que atravessou as fronteiras do estado e atingiu
o Paraná, que passava por uma crise da cultura do algodão e do café devido à
‘Geada Negra’.
A busca pelas novas oportunidades fez com que houvesse uma
grande migração de paranaenses a Indaiatuba que, na expectativa por trabalho,
começaram a se instalar em casas de amigos e parentes nos bairros Jardim Moradado Sol, Santa Cruz e Jardim Califórnia, os últimos bem próximos à Vila
Mercedes.
Com a crescente industrialização, os sítios próximos à
cidade foram se tornando locais de construção para indústrias, ampliando cada
vez mais o perímetro urbano e, por conseguinte, comprimindo as plantações e
atividades agrícolas. Deste modo, o grande contingente da comunidade
concentrada na agricultura que se via há vários anos foi alternando para
diversas outras áreas ligadas, principalmente, às indústrias e às urbanizações.
Por ser uma criação recente, fruto dessas alternâncias, o
novo bairro não contava com comércios e escolas. “Quando mudamos para cá, a
maior dificuldade enfrentada foi a falta de escola para nossas crianças. O
bairro já estava todo preparado, com água, esgoto, iluminação, mas não haviam
escolas. Por conta disso, um grupo de pessoas começou a se organizar para
formar uma sociedade com o objetivo de lutar por esse direito que nós
tínhamos”, relata Padetti.
Para organizar os moradores a reivindicar melhorias junto à
Administração Pública e dar assistência às suas necessidades, foi criada a
Sociedade Amigos do Bairro Jardim do Sol, popularmente conhecida como Sol-Sol,
em 1981, que começou com cerca de 300 associados. O prefeito da época, Clain
Ferrari, doou o terreno para a sede, que foi regularizado pelo seu sucessor,
José Carlos Tonin.
Como contam os próprios moradores e associados, as maiores
conquistas da entidade foram a construção da Igreja da Comunidade de São José
Operário, em 1982, e a do ginásio de esportes, em 1994. “A gente trabalhava aos
fins de semana e nas férias coletivas. Os próprios moradores assentaram tijolos
e ergueram a igreja”, conta Nelson Pereira da Silva, morador do bairro.
Uma curiosidade em relação ao espaço religioso é que, no
altar, existe um memorial enterrado, com jornais da década de 1980, contendo os
nomes das pessoas que ajudaram na construção da igreja e da comunidade. “Daqui
cem anos, quem sabe alguém encontre e lembre de nós”, brinca Silva.
Feliz por todas as conquistas do bairro, Padetti revela que
o grande trunfo de uma sociedade é trabalhar junto ao Poder Público. “A sociedade
é criada para reivindicar, para abrir um caminho e tentar trazer as melhorias
necessárias. Tudo o que era de extrema necessidade nós conseguimos. Agora o que
resta é a manutenção rotineira que todo bairro necessita”.
Sentindo-se realizado com a Sociedade, Padetti diz que
trabalha no local há 31 anos, sem nenhum tipo de remuneração e, emocionado, o
senhor de 79 anos revela seu sentimento em relação ao Jardim do Sol. “Acredito
que o bairro ganhou muito com a presença da Sociedade e com nosso trabalho diferenciado.
A raiz já está plantada e isso ninguém pode arrancar ou apagar da história. Nós
conseguimos realizar um grande sonho”, garante.
Bosque do Saber
Hoje, outro grande destaque do bairro é a Escola Municipal
Ambiental Bosque do Saber, que pertence à Secretaria Municipal de Educação e
foi inaugurada no dia 22 de maio de 2004, com a proposta inicial de ser um
centro multidisciplinar.
Nela, encontra-se uma área verde de aproximadamente 11 mil
metros quadrados para o desenvolvimento das atividades de apoio e pesquisas
referentes ao estudo do meio ambiente, onde, no decorrer do ano são
desenvolvidas atividades e cursos para capacitar professores e alunos sobre o
assunto.
O Bosque do Saber dispõe de um prédio de dois pavimentos,
totalizando 1.472 metros quadrados, com sala de suporte para eventos, auditório
para 196 pessoas, ecobiblioteca e sala de oficinas ecopedagógicas. A área
externa possui um quiosque do Projeto Ecoleitura e outro do Projeto Ecojogos,
estufa, galpão e viveiro para mudas, galpão de reciclagem de papel artesanal,
orquidário, quiosque do Projeto Jardim das Borboletas, área de alimentação,
parquinho, pérgola do Projeto Jardim dos Beija-flores, galpão de compostagem,
maquete de uma microbacia hidrográfica, pomar orgânico, horta orgânica, além de
uma trilha de cerca de 500 metros para que os visitantes possam caminhar na
mata nativa e aproveitar o contato com a natureza.
Existem ainda planos para a instalação de rampas e
elevadores para facilitar o acesso aos cadeirantes, e montar um minizoológico
para proporcionar um turismo de lazer e um lugar agradável para que as pessoas
passem uma tarde ou uma manhã com a família. “Tenho orgulho do trabalho
desenvolvido no Bosque do Saber para conscientizar as crianças e adultos sobre
as questões ambientais, as pessoas se preocupam e pensam que mundo deixaremos
para nossas crianças, mas eu penso em quais crianças que deixaremos para este
planeta”, comenta a secretária de Educação, Rita de Cássia Trasferetti.
Texto originalmente publicado na REVISTA EXEMPLO IMÓVEIS
Agradecimentos: Sr. Aluísio William, presidente do Grupo AWR
e Larissa Ferreira, jornalista.
Texto de Leandro Povinelli
Imagens de Renan Antonietto
As imagens e o texto deste post possuem créditos.
Imagens de Renan Antonietto
As imagens e o texto deste post possuem créditos.
Cite-os se utilizar para sua pesquisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário