Eliana Belo Silva
O trabalho do historiador possui aspectos muitos parecidos com o de um detetive. Historiadores também investigam fontes para recompor uma história, procura pistas, compara informações com outras fontes e procura sempre apresentar uma conclusão o mais verdadeira possível.
Digo verdade "possível" porque a História, como toda ciência humana, é (re)construída com um certo grau de subjetividade advindo do historiador, que não consegue ser totalmente isento em sua prática profissional por estar inserido no objeto estudado. Em outras palavras, cada historiador, como um se humano que vive em uma determinada sociedade, possui, como todas as pessoas, muitos pressupostos, que podem ser de classe social, religião, raça, formação, costumes, etc. E em maior o menor grau, esses pressupostos podem interferir em seu trabalhado de "reconstrução" da História de diferentes formas. Ao escolher o tema, as fontes, a forma de interpretar, de concluir, de escrever...o historiador é influenciado por esses (seus) pressupostos.
Faço essa breve ação de "filosofar" por causa da imagem acima. Ela foi encontrada por Adriano Martins, um amigo lençoense que tem uma produtora de vídeo em Osasco e que vive garimpando imagens de trens, estações e igrejas. Na legenda está escrito "Kil 73 - Linha Mairink-Itaicy" e a imagem não possui data.
Tratei logo de analisar a imagem, com uma voracidade de encontrar uma pista que me desce a certeza que a imagem havia sido feita em Indaiatuba. Sou uma historiadora e como qualquer profissional tento colocar em prática os princípios técnicos e éticos do meu ofício... mas também... como está registrado no "ato filosófico" acima, sou indaiatubana e particularmente aficcionada por estações e trens. Dois "pressupostos" bastante impactantes!
Devo confessar, como qualquer outro profissional em uma cilada qualquer que o cotidiano do nosso trabalho nos prega, que minha vontade era de comemorar aos quatro ventos e bradar: é uma imagem fotografada em Indaiatuba! Mas segurei a onda (snif!).
Passado o ímpeto provinciano do qual não me livrarei nunca, e continuando minha tarefa de detetive-historiadora, olhei para a imagem demoradamente, deliciando-me à cada detalhe. Teria a locomotiva sofrido qual tipo de sinistro? Será que foi um problema técnico? Ou uma tentativa de furto? Um acidente? Atropelamento? Coisa normal não foi. Há pessoas lá, na linha, em cima do pontilhão. Uma composição parada. Teria o maquinista passado mal? Há uma pessoa, parece que até um tanto quanto escondida na sombra, do lado direito da imagem. Está fardado? Uniformizado? E esse pontilhão? E o fotógrafo?
As respostas à essas perguntas, poderiam ser respondidas, e esse episódio reconstruído, se pelo menos, soubéssemos, de início, onde é esse local.
Mas... a investigação foi truncada por um fator limitador: a imagem não tem data.
A Estrada de Ferro Sorocabana foi sendo expandida com o tempo e o quilômetro 73 da rede pode ter ficado próximo à Indaiatuba em uma determinada época, em que essa locomotiva transitou. E eu iria adorar essa certeza. Por outro lado, se a imagem foi fotografada em outra época, o quilômetro 73 ficaria, segundo Adriano e outros estudiosos desse tema (ferrovias) que eu consultei, próximo à Raposo Tavares.
Por enquanto, a tentativa de encontrar todas as pistas para a reconstrução dessa história está limitada, ou melhor, impossibilitada. E como todo historiador - nós também temos coração! - neste momento o meu fica apertado, sofrendo a influência do meu pensamento que lamenta a dúvida, reclama a chance perdida, sofre por não registrar as ações desses personagens que aí estão, e que para sempre... para sempre? ... Ficarão anônimos.
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Participaram da tentativa de desvendar o local da imagem:
- Adriano Martins
- Antonio Reginaldo Geiss
- Antonio da Cunha Penna
- Carlos Almeida
- Coaraci Oliveira Pais de Camargo
- Deize Clotildes Barnabé de Morais
- Ralph M. Giesbrecht
Ola, eu moro em Mairinque e minha familia é tradicional na cidade, essa foto parece com um pontilhão antigo que ja não existe mais na entrada de Mairinque, esse era o inicio do trecho que ligava Mairinque a Itu, passava sobre a Rodovia Raposo Tavares
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirTomei a liberdade de expor essa foto perante uns amigos e chegamos a conclusão que essa foto é da primeira locomotiva que circulou nesse trecho de ferrovia e a foto foi tirada em Mairinque, provavelmente no bairro de Dona Catarina. Qualquer contato meu email wilkercamargo@hotmail.com